Eleição em Curitiba opõe "dinastias" familiares
que dominam a política no Paraná
Fonte: UOL - Eleições 2012
Rafael Moro Martins - Do UOL, em Curitiba - 27/05/201206h00
O eleitor curitibano terá de escolher, em outubro,
candidatos a prefeito relativamente jovens, mas herdeiros de sobrenomes
tradicionais da política ou economia local.
“Há cerca de 50 famílias que monopolizam o poder ao longo de
gerações no Paraná, formando dinastias políticas”, afirma Ricardo Costa
Oliveira, professor-associado de Sociologia Política da UFPR (Universidade
Federal do Paraná).
“As relações entre parentesco e poder político são um traço
estrutural da política brasileira, e no Paraná não é diferente.”
Primeiro colocado nas pesquisas, Gustavo Fruet (PDT), 49, é
filho do ex-prefeito (1982/1985) e ex-deputado federal Maurício Fruet.
A vereadora Renata Bueno (PPS), 32, é filha do líder do PPS
na Câmara Federal, Rubens Bueno – ele próprio já concorreu a prefeitura, sem
sucesso, em 2004.
Grande surpresa das pesquisas realizadas até agora –é o
segundo colocado na preferência dos eleitores–, o deputado federal Carlos
Roberto Massa Junior, o Ratinho Jr. (PSC), 31, é filho do apresentador do SBT,
cuja popularidade ajudou-o a se lançar na política.
Provável candidato do PMDB, o ex-ministro do Turismo Rafael
Greca, 56, já foi prefeito entre 1993 e 1996.
Os quatro são, segundo as pesquisas, os principais
adversários do prefeito Luciano Ducci (PSB), 57, representante de um grupo
político que se mantém no comando da cidade desde a eleição de Jaime Lerner, em
1988.
Regra
Para Oliveira, mesmo Ducci e Greca não fogem a essa regra.
“Ducci é casado com Marry Dal Prá, sobrinha do deputado Dionísio Dal Prá,
político tradicional da região noroeste do Estado, que foi da Arena e depois
deputado federal constituinte pelo antigo PFL. E Greca é filho da família
Macedo, uma das mais atuantes na política paranaense”, afirma o professor.
No vocabulário sociológico, todos são praticantes de
nepotismo, argumenta ele. “É diferente da definição jurídica de nepotismo. Mas
isso demonstra que a família ainda é um dos elementos estruturadores do campo
político, pois dominam partidos políticos”, diz.
Oliveira é autor de dois livros que analisam as famílias que
dominam a política paranaense – “O Silêncio dos Vencedores”, atualmente
esgotado, e “Na Teia do Nepotismo”, com lançamento previsto para os próximos
meses.
Professor-adjunto de Ciência Política na UFPR, Adriano
Codato credita a falta de renovação nos sobrenomes que comandam a política
paranaense a outros problemas.
“Uma campanha eleitoral no Brasil custa muito caro, o que
dificulta o acesso a um cargo eletivo a quem não tem dinheiro ou acesso a
fundos partidários. As candidaturas, de modo geral, são definidas por critérios
personalistas – as exceções são os partidos de esquerda e centro-esquerda, que
são fracos eleitoralmente no estado”, avalia Codato.
“Some-se a esse dois fatores o fato de que vivemos uma
dificuldade de surgimento de novas lideranças políticas e partidárias. Assim, o
resultado é que as novas gerações de políticos são formadas em grande parte por
filhos de gente que já está na vida pública”, afirma o professor.
“Um filho de político, naturalmente, tem acesso mais fácil
ao esquema de financiamento de campanhas e ao comando partidário. E aí forma-se
uma rede aparentemente indestrutível que impede a renovação”, diz Codato.
Para ele, o quadro paranaense não é diferente do que se
encontra no resto do País, já que as raízes da distorção são comuns a todo o
Brasil. “Tome-se o caso de São Paulo, por exemplo, onde o PSDB praticamente
criou uma dinastia partidária no governo do estado”, lembra o cientista
político.
As personagens
“É fundamental separar a tradição de transferência de poder
a qualquer custo do incentivo dos pais”, diz Gustavo Fruet ao UOL.
“Praticamente nasci em um comitê eleitoral. Mas é importante
lembrar que nunca fui candidato junto com meu pai e que ele nunca me nomeou
para qualquer cargo. Seguir os passos dos pais em uma profissão é bonito, mas
usar o poder para influenciar nesta caminhada, não.”
Fruet começou a carreira como vereador, em Curitiba. O pai
dele, Maurício Fruet, fez carreira
política no PMDB, partido pelo qual foi indicado prefeito de Curitiba em 1982.
Em 1998, Maurício morreu a pouco mais de um mês das eleições
em que concorreria a um mandato como deputado federal.
Gustavo, então cumprindo o primeiro mandato como vereador em
Curitiba, assumiu a campanha do pai, e foi eleito para um mandato na Câmara dos
Deputados.
O deputado Ratinho Jr diz que a popularidade do pai o
ajudou. “Obviamente, a popularidade de meu pai potencializou minha primeira eleição,
pois eu não era conhecido. Votaram em mim pelo aval de meu pai”, diz . “Mas
minha permanência na política se deve ao meu trabalho. Se eu não fizesse jus ao
que meu pai avalizou, não teria ido adiante”, afirma.
Ratinho Jr. obteve o primeiro mandato em 2002, aos 21 anos –
elegeu-se deputado estadual pelo PPS.
Quatro anos depois, conseguiu uma vaga na Câmara Federal. Em
2010, reelegeu-se, pelo PSC, com a maior votação do Paraná e a sexta maior do
Brasil.
O pai dele, o apresentador Ratinho, já arriscou seus passos
na política: elegeu-se deputado federal em 1991 pelo PRN, partido do então
presidente Fernando Collor.
Atualmente, ele é dono da Rede Massa de Televisão,
retransmissora do SBT no Estado.
Renata Bueno também diz que o pai tem influência na sua
decisão de seguir na carreira política. “Acompanhei a vida pública de meu pai
desde o início, e senti necessidade de passar à minha geração algo de bom na
política. Antes de qualquer coisa, sou Rubens Bueno”, diz a vereadora. “Mas não
se trata de uma dinastia, mas de criar garra para enfrentar o mundo político,
que é muito corrupto”, diz.
Vereadora em primeiro mandato, ela deve ter a candidatura à
prefeitura ratificada pela convenção do partido, em junho.
O PPS no Paraná é comandado, desde a fundação, pelo deputado
federal Rubens Bueno, ex-prefeito de Campo Mourão (noroeste do Estado).
Renata é casada, desde o ano passado, com o também vereador
Juliano Borghetti (PP), irmão da deputada federal Cida Borghetti (PP), que é
mulher do ex-deputado federal e ex-prefeito de Maringá Ricardo Barros (que foi
líder dos governos FHC e Lula na Câmara Federal).
Rafael Greca elegeu-se prefeito de Curitiba, pelo PDT, como
sucessor de Jaime Lerner, em 1992. Hoje, está no PMDB, comandado no estado por
Roberto Requião, adversário histórico de Lerner.
Sua candidatura enfrenta resistências entre boa parte dos
peemedebistas, mas é defendida por Requião, atualmente senador, que comanda com
mão de ferro o partido desde o final da década de 1980.
Luciano Ducci foi eleito vice-prefeito ao lado do atual
governador Beto Richa (PSDB). Quando Richa deixou o cargo para concorrer ao
Palácio Iguaçu, em 2010, Ducci herdou o cargo.
Reeleito para a prefeitura com 78% dos votos válidos, em
2008, Richa é o principal cabo eleitoral de Ducci, terceiro colocado nas
pesquisas realizadas até agora.
Beto Richa é filho do ex-governador (1983/86) e
ex-senador José Richa, um dos fundadores do PSDB. Ele tem um irmão, José Pepe
Richa Filho, e a mulher, Fernanda Richa, no primeiro escalão do governo. O
filho de Beto, Marcello Richa, é secretário municipal em Curitiba.
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