sábado, 6 de dezembro de 2014

Com nova igreja definida, padre vítima de racismo só espera 'ser acolhido'

06/12/2014 15h53 - G1 - Atualizado em 06/12/2014 15h55
Grupo de moradores pediu sua saída de paróquia em Adamantina.

Pároco deve assumir santuário em Dracena, conforme decisão da Diocese. 

Vinícius Pacheco e Stephanie Fonseca

Do G1 Presidente Prudente
Padre ficou um ano e dez meses em Adamantina, na Paróquia Santo Antônio (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Padre ficou um ano e dez meses em Adamantina, na Paróquia Santo Antônio (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Apesar da mobilização pela sua permanência na Paróquia Santo Antônio, em Adamantina, o padre Wilson Luís Ramos deve ser transferido nos próximos dias para o Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Dracena. O anúncio foi feito no final da tarde desta sexta-feira (5), por meio de circular enviada pela Diocese de Marília, segundo o pároco. “Só espero ser bem acolhido”, diz o sacerdote, que foi vítima de racismo durante o período de um ano e meio que ficou na paróquia atual, em entrevista ao G1.
Ramos explica que a data exata da mudança não está definida, porém já está com as malas prontas. “Comecei a me preparar assim que foi anunciada minha transferência para outra cidade. Só quero que esta minha passagem por Dracena seja mais tranquila. Em meus vários anos como padre, foi a primeira vez que tive problemas com a população”, conta.
O padre, de 50 anos, estava em Adamantina há um ano e dez meses. Sua saída da igreja atual foi definida no dia 28 de novembro. Em nota, o bispo Luiz Antônio Cipolini, responsável pela paróquia, informou ter encontrado uma “paróquia dividida, com grave prejuízo ou perturbação à comunidade eclesial. “Não consigo enxergar, nesta situação, nem vencedores e nem vencidos, apenas pessoas que amam a Jesus Cristo e à sua Igreja e querem trabalhar pelo crescimento do Reino de Deus”, aponta o pronunciamento oficial.

Entretanto, Ramos explica que um grupo de pessoas realizou reclamações à Cúria, com o objetivo de retirá-lo da cidade. “Eu acho que o bispo deve ter ouvido estas queixas. Eu vou respeitar esta ordem. Não foi minha vontade, mas respeito a decisão”, explica.
Padre tem 50 anos e diz que nunca imaginou presenciar atitude racista por parte dos fiéis (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Padre tem 50 anos e diz que nunca imaginou presenciar
atitude racista por parte dos fiéis
 (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
O pároco relata que viveu situações de racismo desde sua chegada em Adamantina, porém as “brincadeiras” nunca causaram abalo durante suas celebrações. “Já falaram que deveriam trocar o galo de bronze, que fica em cima da igreja, por um urubu. Muita gente conversa comigo e diz que fazem piadas sobre mim, porém isso nunca afetou a minha vida”, aponta.
As críticas ao padre não representam o que grande parte dos moradores da cidade, que tem pouco mais de 33 mil habitantes e está localizada no Oeste Paulista, defende. Um abaixo-assinado, que já colheu aproximadamente 7 mil assinaturas, pede a permanência do religioso no município. Segundo o organizador do movimento, o jornalista Danilo Ferreira, “o padre Wilson tem que continuar”.
“Estamos organizando um ato em frente à igreja durante as missas pedindo a permanência dele e vamos fazer faixas contra o racismo. Nunca presenciei o ato, mas já ouvimos comentários de que existe uma parcela de fiéis que não aceitam o padre por causa da cor. Eles fazem comentários e brincadeiras maldosas”, esclarece.
Os apoiadores de Ramos se instalaram em frente a algumas lojas do comércio de Adamantina para recolherem as assinaturas. Além disso, o movimento “Fica, Padre Wilson” se organiza por meio das redes sociais. Só em uma das páginas de apoio ao pároco, existem quase 2 mil participantes.
Wilson Luís Ramos nasceu na capital paulista, mas morou desde criança em Tupã (SP), no interior do Estado. Nesta última cidade se tornou padre e celebrou missas em diversas igrejas. “A religião esteve presente na minha vida desde pequeno. Desde jovem, já tinha em mente a decisão de ser padre”, conta.
Filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica, o sacerdote afirma que já tinha sofrido ofensas quando pequeno, porém não esperava esse comportamento por parte dos fiéis. “Minha família me passou valores que eu levo para a minha vida toda, além de ter me iniciado na igreja. Mesmo quando pequeno, não me abalei com a situação. Mas sei que existem aqueles que não aceitam pessoas negras”.
O G1 tentou entrar em contato com a Cúria Diocesana de Marília, porém não obteve sucesso. Por telefone, a equipe de reportagem ligou para o bispo Luiz Antonio Cipolini, porém foi informada de que ele “tinha muitos compromissos e que dificilmente iria falar com alguém neste sábado”.
Segundo Ramos, só um "milagre" poderia impedir que ele vá para Dracena. “Eles não são impossíveis. Eu só peço que as pessoas não discriminem o próximo e passem uma mensagem de paz uns aos outros. Espero que na nova igreja tenha uma recepção mais tranquila. Eu agradeço toda a população e peço desculpas se incomodei alguém”, finaliza.


Meta é recolher 20 mil assinaturas  (Foto: Franciele Spina Lucas/Cedida)
Abaixo-assinado já recolheu aproximadamente 7 mil assinaturas (Foto: Franciele Spina Lucas/Cedida)

























Planilha de doleiro lista projetos de 170 empresas no Brasil e no exterior com valor total de R$ 11,5 bilhões


  • Para juiz, material apreendido é principal indício de que desvios vão ‘muito além da Petrobras’.
© Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Para juiz, material apreendido é principal indício de que desvios vão ‘muito além da Petrobras’
Uma planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef, que lista 750 obras de infraestrutura de 170 empresas, a maioria empreiteiras, é um dos principais indícios que levam o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, a suspeitar que o esquema criminoso que desviou recursos de obras da Petrobras alcança outros setores da administração pública. Usada pelo doleiro para acompanhar suas negociações e projetos em andamento, a planilha lista valores que, somados, chegam a R$ 11,5 bilhões - 59% das obras estão ligadas à Petrobras. Num despacho em que negou a revogação da prisão preventiva do executivo Erton Medeiros Fonseca, presidente da Divisão de Engenharia Indusrrial da Galvão Engenharia, Moro afirma que a apreensão da planilha é "pertubadora" e sugere que "o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras".

A lista de Youssef, a qual O GLOBO teve acesso, é formada basicamente por empreiteiras citadas e investigadas na Operação Lava-Jato por obras com a Petrobras. Os projetos pertencem a setores como aeroportos, irrigação, energia, mineração, transporte e saneamento básico, a maioria feito com recursos federais e, em muitos casos, tocados por governos estaduais. Além de obras no Brasil, a planilha lista algumas realizadas no exterior, incluindo o Porto de Mariel, em Cuba, que recebeu financiamento do BNDES. O porto cubano está relacionado à "cliente" Odebrecht Logística e o valor anotado à frente do projeto é de R$ 3,6 milhões. Até maio passado, o BNDES já havia repassado pelo menos R$ 1 bilhão à construtora Odebrecht pela reforma do porto de Mariel, em Cuba.

A planilha não é o único documento que levanta suspeita sobre financiamentos a obras no exterior. A Polícia Federal identificou visitas do advogado Alexandre Portela Barbosa, da construtora OAS, ao escritório do doleiro Alberto Youssef logo após ter retornado de viagens ao Peru. No dia 16 de setembro de 2013, Barbosa esteve no escritório do doleiro, onde ficou por cerca de 50 minutos. No dia seguinte, ele embarcou num voo com destino a Lima, a capital peruana. No dia 16 de janeiro passado, Barbosa chegou ao Brasil, vindo de Lima, e, no dia seguinte, foi até o escritório de Youssef - chegou às 14h02m e saiu às 15h31m. Preso temporariamente, Barbosa foi libertado e não há informação que tenha colaborado com a investigação. 

O nome da empreiteira OAS também aparece vinculado a obras no Uruguai e n Argentina. Para a construção de um gasoduto argentino, o BNDES liberou US$ 200 milhões. Segundo a investigação que justificou a prisão temporária de executivos na Operação Lava-Jato, as empresas OAS S/A e a Construtora OAS S/A transferiram, pelo menos, R$ 1.501.600,00 e R$ 5.406.017, a conas controladas por Alberto Youssef no Brasil. Depositou também USD 4.800.000,00 em conta no exterior por ele controlada. Foram identificadas ainda trocas de mensagens entre Youssef e Alexandre Portela Barbosa e Jose Ricardo Nogueira Breghirolli, ambos executivos da OAS. Outras trocas de mensagens indicam que Breghirolli era o responsável, junto à OAS, pelos contatos e negócios com Alberto Youssef, inclusive para remessas fraudulentas ao exterior. Segundo as investigações, Breghirolli teria solicitado ao doleiro a entrega de e R$ 110.000,00 a uma pessoa chamada Marice. Para a Polícia Federal, trata-se de Marice Correa da Lima, cunhada de João Vaccari Neto. Os pagamentos ao esquema do doleiro eram feitos pelo diretor financeiro da empreiteira, Mateus Coutinho de Sá Oliveira. Os agentes da PF apreenderam um cartão de visitas de Oliveira no escritório de Youssef.

Entre as obras em território nacional está citada uma feita pela construtora Lucaia, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), cujo ex-diretor de desenvolvimento e ex-presidente Clementino Coelho, irmão do ex-ministro Fernando Coelho, já havia sido flagrado na Operação Lava Jato, numa troca de emails com o doleiro, pedindo dinheiro. A Lucaia aparece na lista do doleiro com data de 2009. No mesmo ano, a construtora fechou um contrato de R$ 7,984 milhões com a Codevasf, com verba do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal. Procurada pelo GLOBO, a Codevasf informou que não foi oficialmente notificada sobre a inclusão na lista do doleiro. "Em 2009 houve contratos firmados entre a Lucaia e a Codevasf para obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário; o último contrato firmado com a referida empresa foi em 2010. De lá para cá, não houve novos contratos firmados entre Codevasf e Lucaia", completou. 


Moro afirmou no despacho de Fonseca que há indícios de que as empreiteiras pagaram propina também em obras onde não atuaram em cartel, mas em iniciativas isoladas. Lembra que a própria Galvão Engenharia admitiu pagamentos para a diretoria de Serviços entre 2010 e 2014. Fonseca, de acordo com o juiz, admitiu pagamentos de R$ 8,863 milhões à diretoria de Serviços entre 2010 e 2014. O valor foi pago em parcelas, a última delas em 24 de junho passado, por meio da empresa LFSN. Investigado pela Polícia Federal, o diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque ocupou o cargo entre 2003 e 2012. No depoimento de delação premiada, Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, afirmou que o cartel operou apenas até a saída de Duque.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Suíça vai transferir para Brasil processo do cartel de trens em SP

Sex, 05/12/2014 às 13:00 - UOL - POLITICA

Jamil Chade, correspondente
A Suíça vai transferir ao Brasil todos os processos criminais existentes contra os suspeitos no caso do cartel dos trens de São Paulo, o que significa que a Justiça brasileira receberá todos os detalhes de todas as contas dos envolvidos e que atualmente estão bloqueadas.
A informação foi dada a uma delegação de procuradores e promotores brasileiros que, nesta semana, estiveram em Berna para trocar informações sobre o caso envolvendo as empresas Alstom e Siemens e funcionários públicos nacionais. Nesta quinta-feira, 04, a Polícia Federal indiciou 33 pessoas suspeitas de envolvimento no cartel do setor metroferroviário que operou em São Paulo entre 1998 e 2008, nos governos de Márcio Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. Entre os indiciados está o atual presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira.
As informações permitirão que o Ministério Público no Brasil e promotores paulistas possam aprofundar as investigações contra João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, contra o lobista Arthur Teixeira e o também ex-diretor da CPTM, Ademir Venâncio de Araújo, que detém cinco contas na Suíça com um montante bloqueado de US$ 1,2 milhão.
Os três são considerados peças fundamentais para entender de que forma as multinacionais Alstom e Siemens operavam para garantir contratos. Outro foco do processo é o ex-juiz do Tribunal de Contas, Robson Marinho.
Na Suíça, eles estavam sendo investigados por lavagem de dinheiro e todas suas contas haviam sido bloqueadas. Com a transferência, todos os extratos bancários e todas as informações seriam também entregues. "Esse é o cenário de pesadelo para os suspeitos", disse Silvio Marques, promotor paulista que fez parte da delegação.
Para que seja concretizada, a transferência do processo ainda precisa passar pelo Ministério da Justiça na Suíça. O Brasil não seria contrário em aceitar o processo. No caso das contas do ex-prefeito Paulo Maluf no exterior, o STF chegou a pedir a Luxemburgo, França e Jersey que os processos fossem transferidos ao Brasil.
Desde quarta-feira, uma delegação de procuradores e promotores brasileiros esteve em Berna em encontros com o Ministério Público da Suíça. A meta tanto dos suíços quanto dos brasileiros é identificar o percurso do dinheiro encontrado em contas em Zurique e que poderiam ser propina paga por empresas como a Alstom e a Siemens para garantir contratos públicos no Brasil.
Há meses os brasileiros vinham pedindo para que as informações sobre as contas desses suspeitos e, até agora, Berna tinha evitado abrir seus arquivos. Hoje, porém, fontes do MP suíço confirmaram à reportagem que o acesso aos detalhes das contas já bloqueadas foi garantido aos brasileiros.
Os documentos seguem nas próximas semanas por meio dos canais oficiais. Mas as informações passadas aos brasileiros durante as reuniões apontou para novas evidências e novas provas de como as propinas eram pagas pelas multinacionais.
A delegação brasileira, composta pelo procurador da República Rodrigo de Grandis e pelo promotor de Justiça Silvio Marques, admitiu que ficou "surpresa" com a indicação dos suíços.
Quando retornar ao Brasil, na semana que vem, De Grandis vai avaliar o informe preparado pela Polícia Federal e decidir como incorporar as informações dos suíços. "Vamos avaliar qual é a melhor estratégia", disse. Para ele, os extratos bancários e documentos dos suíços "certamente" vão além da apuração realizada até hoje no Brasil desde o início do caso.
Num esforço de demonstrar que existe uma cooperação, um dia antes da reunião de Berna, a Polícia Federal fez busca na residência e no escritório de Zaniboni, no que foi uma operação executada justamente a pedido do Ministério Público da Suíça ainda em 2011 e jamais realizada. Berna abriu investigação sobre a origem os mais de US$ 826 mil que Zaniboni manteve depositado em Zurique. O ex-diretor garante que o dinheiro foi resultado de uma consultoria que prestou.
Os suíços haviam concluído o caso que existia contra a Alstom, depois que a multinacional pagou uma multa milionária e encerrou o processo em Berna. Mas, agora, as suspeitas são contra brasileiros que teriam usado o sistema bancário suíço para lavar dinheiro fruto dessa corrupção.
O que chama a atenção dos suíços é que parte do dinheiro foi depositado por Arthur Teixeira, apontando pela PF aponta como o pagador de propinas do cartel de trens. Dados bancários de posse dos suíços revelam de fato o nome de Teixeira e é justamente essa informação que o Brasil também quer levar de volta ao País quando deixar Berna na sexta-feira.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

SP, RJ e MG fecham acordo no STF para transposição do Paraíba do Sul Governadores do Rio e de Minas aceitaram que a obra seja iniciada. Projeto paulista pretende desviar água do rio para abastecer o Cantareira.

27/11/2014 12h57 - Atualizado em 27/11/2014 13h19

Lucas Salomão - Do G1, em Brasília

Os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais fecharam um acordo nesta quinta-feira (27), no Supremo Tribunal Federal (STF), para iniciarem obras de infraestrutura que possam reduzir os efeitos da crise hídrica que atinge atualmente a Região Sudeste, entre as quais a transposição do rio Paraíba do Sul.
Segundo o acerto, mediado pelo ministro do STF Luiz Fux, os três estados devem apresentar até 28 de fevereiro do ano que vem uma proposta conjunta para a solução do problema, apontando possíveis soluções para o enfrentamento da crise de falta d'água.
A transposição do rio Paraíba do Sul é um projeto do governo paulista que pretende desviar água do rio para abastecer o Sistema Cantareira, que enfrenta uma crise hídrica por conta da estiagem no Sudeste. A bacia do Paraíba do Sul abastece diversos municípios do estado do Rio de Janeiro, incluindo a região metropolitana da capital fluminense.
Em maio, o Ministério Público Federal do Rio protocolou uma ação civil pública na Justiça Federal pedindo que fosse concedida uma decisão liminar (provisória) para barrar o projeto do governo paulista que prevê a transposição das águas do Paraíba do Sul. Na ocasião, a Justiça Federal enviou o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF), alegando não ter competência para julgar o caso, já que o rio banha mais de um estado e o fato geraria um conflito federativo.
Procuradores da República solicitaram, em junho, que a Agência Nacional das Águas (ANA) não autorizasse a transposição do rio, pelo menos, até o que o Ibama realizasse estudos de viabilidade ambiental necessários para avalizar esse tipo de projeto.
Ao analisar o caso, o ministro Luiz Fux negou o pedido de liminar por entender que não há provas de que o governo de São Paulo estaria fazendo obras para captação da vazão do Rio Paraíba do Sul. Mesmo assim, ele entendeu que, por ser grave o problema na região Sudeste, era necessária a realização da audiência desta quinta.
Para o ministro Luiz Fux, que mediou o encontro, os estados "manifestaram desejo mútuo" de se ajudarem na solução do conflito. Ele também disse que, uma vez que o acordo seja apresentado, o problema entre os estados "estará solucionado".
Além de Fux, participaram da audiência os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin; do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão; e de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho. Também estiveram no encontro a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo.
Os governadores e os órgãos responsáveis por estudos técnicos se comprometeram, no acordo assinado após a audiência, a não realizar obras sem o consentimento de todas as partes envolvidas. Os signatários também se comprometem a respeitar, nas obras, estudos de impacto ambiental e também a realizar ações de compensação ao meio ambiente.
No dia 15 de fevereiro do próximo ano, quando o acordo final será apresentado à Justiça, todas as ações que tramitam judicialmente serão extintas, informou o ministro Luiz Fux.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Escândalo do 'cadeiolão' levanta questões sobre prisões privadas nos EUA

The New York Times Publicado no UOL.
Richard Fausset - 25/11/2014 - 00:01

  • As cadeias privadas proliferaram nos Estados Unidos, mas pagamentos de propina colocam o sistema em cheque
    As cadeias privadas proliferaram nos Estados Unidos, mas pagamentos de propina colocam o sistema em cheque
Em 1982, o jovem professor Christopher B. Epps pegou um segundo emprego como guarda em uma prisão conhecida como Fazenda Parchman, a única administrada na época pelo Departamento Penitenciário do Mississipi.
Eventualmente ele teve que optar por um caminho. "Acabou que eu estava ganhando mais como agente penitenciário do que como professor", lembrou-se Epps em uma entrevista para um boletim informativo do setor de correções.
Quando disse isso em 2009, Epps estava sendo homenageado como o comissário de penitenciárias que atuou por mais tempo no Mississipi. A população de presos do estado havia quadruplicado, cinco prisões privadas tinham sido construídas para ajudar a abrigá-la e, de acordo com as acusações de um grande júri federal, Epps havia encontrado uma nova forma de aumentar sua renda por baixo dos panos.
As 49 acusações contra Epps, reveladas na semana passada, alegam que ele recebeu mais de US$ 1 milhão em propina de um ex-legislador do Mississippi chamado Cecil McCrory, a partir de 2007. Em troca, diz a acusação, Epps ajudou a garantir contratos lucrativos junto ao departamento penitenciário para companhias de prisões privadas de propriedade de McCrory ou representadas por ele.
A acusação e sua repercussão levantaram questões que vão além de como Epps conseguiu comprar, com seu salário de servidor público, uma casa em um condomínio fechado de luxo, bem como um apartamento na praia, uma Mercedes cara e o Rolex de ouro que ele usou no tribunal no dia 6 de novembro, quando alegou ser inocente.


Conheça as prisões mais curiosas do mundo6 fotos

A prisão mais divertida: Cebu. Para completar o ranking organizado pelo Discovery Notícias, a prisão de Cebu, nas Filipinas, destaca-se por abrigar os detentos "mais divertidos do mundo". Depois de assistir ao filme Um Sonho de Liberdade, o diretor da penitenciária achou que a música seria uma boa terapia e criou um programa que ensina coreografias aos presidiários. Elas são apresentadas em eventos culturais ou de caridade, em que os espectadores podem tirar fotografias com os "astros" e comprar suvenires. A iniciativa fez tanto sucesso que conta com a participação de mais de mil presos. As apresentações sempre vão parar no Youtube. Na imagem, eles dançam o kit "Gangnam Style" AFP

Algumas das questões estão focadas nas negociações do estado com o setor privado, que abriga um em cada cinco presos no Estado - um sistema do qual McCrory foi um dos primeiros defensores.
O Mississippi há muito luta para melhorar seu sistema prisional, notoriamente problemático. Em 2012, um juiz federal chamou as condições de uma das prisões privadas de "uma fossa séptica de atos e condições inconstitucionais e desumanas".
Agora o Estado está diante da possibilidade da ampliação do escândalo de corrupção, da reavaliação do sistema de contratação de prisões, e a retirada do poderoso Epps da equação política em meio à implementação de uma ambiciosa lei de sentenças alternativas que ele ajudou a criar.
"A situação é de desespero e falta de esperança", disse Jody Owens, advogado do Sothernt Poverty Law Center, em Jackson, que processou Epps por causa das condições nas prisões.
Instalações modernas no complexo penitenciário, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, o primeiro presídio privado do país. Trata-se de uma parceria entre o governo de Minas Gerais e a iniciativa privada Carlos Alberto Secom/MG
Logo depois que a acusação foi revelada, o governador Phil Bryant prometeu que o Estado abriria novas licitações para todos os contratos mencionados no processo e reavaliaria todos os outros contrato com prisões para garantir que tenham sido firmados legalmente.
Em um documento do tribunal no final de outubro, um juiz magistrado federal indicou que a investigação penal estava em andamento. Promotores disseram em um documento anterior que estavam investigando não só Epps e McCroy e seus supostos crimes, mas também "outros associados a esses esquemas e crimes".
"Estamos todos nos perguntando até onde isso vai e quem serão todos os envolvidos", disse o senador Russell Jolly, democrata. "Não sabemos."
Até renunciar ao cargo, um dia antes de se apresentar ao tribunal, Epps havia caminhado com destreza na corda bamba, servindo a um governador democrata e depois a dois republicanos.
Como um negro que ascendeu na carreira, Epps era, para muitos, um exemplo anti-clichê da promessa do Mississippi pós-segregação. Os legisladores ficavam encantados com sua bonomia e seu abraço de urso e admiravam sua habilidade de repetir estatísticas precisas de cabeça.
Mas para os defensores dos presos, ele era um personagem mais complicado. Margaret Winter, diretora-associada do Projeto Prisões Nacionais da União Americana pelas Liberdades Civis, disse que Epps merece crédito por desmantelar uma unidade infame de confinamento solitário em Parchman, antes conhecida como Penitenciária Estadual do Mississippi. A violência caiu, e Epps ganhou aclamação nacional.
De volta ao estado, o senador Willie Wimmons, democrata, disse que Epps também trabalhou com ele para tentar reduzir as leis rígidas de condenação que vêm alimentando o crescimento explosivo da população carcerária. Em 2008, os dois tiveram sucesso em excluir alguns criminosos não violentos da lei que exigia que os réus cumprissem pelo menos 85% de suas sentenças.
Mas Winter e seus aliados continuaram processando. Em 2010, a ACLU e a SPLC entraram com uma queixa junto ao governo federal contra o tratamento precário que os jovens recebiam na Instituição Correcional Walnut Grove, uma prisão privada, eventualmente entrando em um acordo.
Um segundo processo pendente tem como alvo a Instituição Correcional East Mississippi, uma prisão para doentes mentais, onde advogados e especialistas relataram paredes sujas de fezes, guardas corruptos, violência frequente e cuidados médicos abaixo do padrão.
Quando se tornou comissário, em agosto de 2002, Epps herdou as prisões privadas, um legado da era dos legisladores dos anos 90, que as viam como uma solução barata para uma crise de superlotação. McCrory, ex-vice-xerife, apoiou a lei de privatização de 1993. Ela não foi para frente no legislativo estadual, mas a ideia ganhou força, e o Mississippi abriu sua primeira prisão privada em 1996.
Em 2013 o sistema tinha quatro prisões privadas e a segunda maior taxa de encarceramento do país. Estimava-se que o crescimento da população carcerária custaria ao estado US$ 266 milhões durante os dez anos seguintes. Como em outros Estados, os republicanos conservadores que dominam o governo estadual começaram a explorar a possibilidade de cortar custos com uma reforma das penas.
Epps foi escolhido para liderar uma força-tarefa sobre o assunto. O grupo eventualmente criou um plano abrangente que, entre outras coisas, deu a alguns criminosos não violentos novas alternativas que não a prisão. O planos se tornou lei em 2014. Epps chamou-o de um "marco" na legislação, que "controlaria os custos do sistema correcional sem prejudicar em nada a segurança pública".
Nesse ponto, segundo as acusações, ele vinha recebendo propinas de McCrory há pelo menos sete anos. McCrory é acusado de fazer depósitos de cinco e seis dígitos em contas bancárias para pagar as hipotecas dos imóveis de Epps.
Epps, diz o documento, recebeu mais US$ 900 mil em dinheiro, guardando parte num cofre em sua casa e depois depositando em várias contas, ou adquirindo cheques administrativos, em quantias menores que US$ 10 mil para evitar prestar contas ao governo federal.
Entre os clientes de McCrory está a Management and Training Corp., ou MTC, uma companhia com sede em Utah que foi contratada para administrar três prisões privadas em 2012, e quatro em 2013.
De acordo com as acusações, foi Epps que persuadiu a MTC a contratar McCrory como consultor, e negociou pessoalmente o honorário de US$ 12 mil, que mais tarde dividiu com McCrory.
Um porta-voz da MTC disse em uma declaração que Epps meramente "recomendou" que a companhia trabalhasse com McCrory, acrescentando que a empresa, na época, não "estava ciente de nenhuma relação supostamente inapropriada entre Epps e McCrory."
Ele acrescentou que a companhia havia trabalhado junto a Epps para fazer mudanças nas prisões para "melhorar a segurança e o tratamento dos presos". McCrory, que também foi citado nas acusações, também se declarou inocente. A MTC cancelou o contrato de consultoria com ele.
A reportagem não conseguiu falar com o advogado de McCrory. Epps recusou-se a comentar.
Para Winter, as acusações, embora perturbadoras, são uma distração em relação a questões mais preocupantes que afligem o sistema. Ela argumenta que as autoridades estaduais monitoram as prisões privadas de forma inadequada, enquanto "recusam-se veementemente a destinar dinheiro suficiente para alimentar, vestir e abrigar os presos" em todo o sistema.
O foco no caso de Epps pode desencadear pelo menos uma reforma no sistema penitenciário. O auditor estadual Stacey Pickering teme que Epps, mesmo que seja condenado, ainda possa receber sua aposentadoria estadual.
Pickering planeja pedir aos legisladores para criar uma lei proibindo esse tipo de pagamento.
Tradutor: Eloise De Vylder

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Água de 20 capitais tem ‘contaminantes emergentes’

Jornal da Unicamp - Campinas, 23 de setembro de 2013 a 29 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 576
Mesmo atendendo aos requisitos do Ministério da Saúde, a qualidade da água distribuída a 40 milhões brasileiros, moradores de 20 capitais, ainda precisa melhorar muito, revela pesquisa realizada em mananciais e na água que sai das torneiras pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. A principal preocupação, de acordo com o pesquisador Wilson Jardim, são os chamados interferentes endócrinos, substâncias que afetam o sistema hormonal de seres humanos e animais.

De acordo com Jardim, hoje existem cerca de 800 substâncias do tipo que são consideradas “contaminantes emergentes” da água – isto é, que aparecem no líquido, mas não são controladas por leis ou regulamentos.

“A portaria [2914, do Ministério da Saúde, que normatiza a qualidade da água potável] é muito estática, e a nossa vida é dinâmica, nossa sociedade é dinâmica”, disse Jardim, que é pesquisador do IQ e membro do INCTAA, ao Jornal da Unicamp. “A cada ano, são mais de mil novos compostos registrados. Trinta anos atrás, as pessoas usavam três produtos de higiene quando acordavam, antes de sair de casa. Hoje são dez, em média”.

O pesquisador explica que muitas dessas substâncias acabam indo parar no esgoto, nos mananciais e – porque a legislação não diz nada sobre elas – são ignoradas nos procedimentos de limpeza da água aplicados antes que ela retorne ao consumo humano. E parte desse material é composta por interferentes endócrinos.
A preocupação com contaminantes do meio ambiente que afetam o equilíbrio do sistema hormonal dos seres vivos é internacional. No ano passado, dois órgãos da ONU, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicaram um relatório conjunto, O Estado da Ciência dos Produtos Químicos Interferentes Endócrinos, alertando para os possíveis riscos dessas substâncias. 

“A saúde humana e animal depende da capacidade de reprodução e desenvolvimento normais, o que não é possível sem um sistema endócrino saudável”, diz o texto.
Mesmo reconhecendo que ainda não há evidência irrefutável de que esses contaminantes estejam afetando a saúde das pessoas, o relatório cita uma série de problemas – como o aumento no número de casos de certos tipos de câncer, ou a antecipação da idade da primeira menstruação das meninas, observada em vários países – que podem estar relacionados à presença desses interferentes no ambiente.

Jardim lembra que há uma série de estudos ligando a presença dessas substâncias na água a alterações no desenvolvimento de animais, como peixes e sapos. Ele cita especificamente um trabalho publicado em 2007 no periódico PNAS, em que a contaminação de um lago canadense com uma concentração de 5 ng/l (nanogramas, ou bilionésimos de grama, por litro) de um hormônio usado em pílulas anticoncepcionais levou a população de peixes ao colapso, depois que os machos passaram a exibir características femininas, impedindo a reprodução.

“Isso fez com que a União Europeia comece, hoje, a pensar em regulamentar o etnilestradiol [hormônio usado em anticoncepcionais] em 0,035 nanogramas por litro, nas águas”, disse Jardim. “Esses são valores que há 15, 20 anos, ninguém conseguia nem medir. Mas hoje se fala desses valores com sobriedade, e com muita propriedade”. O pesquisador disse ainda que há uma lacuna importante no conhecimento sobre os efeitos desses contaminantes na fauna latino-americana.  “A América Latina hoje tem pouquíssimos dados sobre os efeitos adversos na biodiversidade. Dados de feminização de peixes, de desaparecimento de sapos, do impacto na biodiversidade”, declarou. “Não sei se é falta de dados ou de sistematização e de acesso à informação. E isso é muito importante. É um pé manco que temos hoje, nessa questão”.
No levantamento realizado pelo INCTAA, foram coletadas amostras de água de mananciais e da água já tratada que chega à população em 19 capitais de Estados brasileiros e no Distrito Federal. O nível de cafeína na água foi usado como indicador da presença de contaminantes que têm ação estrógena, isto é, um efeito semelhante ao do hormônio feminino.
“Há uma dificuldade química em achar, medir os compostos que têm atividade estrogênica”, disse Jardim. “Porque são vários hormônios, vários detergentes, pesticidas que têm essa atividade de confundir o nosso sistema hormonal”. O pesquisador também lembrou que essas substâncias podem interagir entre si, de modo que o efeito estrógeno seja uma propriedade da mistura. “A toxicologia clássica não lida bem com misturas”.

No entanto, experimentos em laboratório mostraram que a presença de cafeína na água coletada tem uma boa correlação com a atividade estrógena, tal como detectada em experimentos. “A cafeína presente na água é quase toda excretada pela atividade humana”, acrescentou ele. “É uma droga muito consumida. A gente consome muita cafeína, seja junto a medicamentos, refrigerantes, energéticos”. Assim, a concentração de cafeína também permite determinar quanto de esgoto foi lançado na água.
“Grande parte dos estrógenos em zonas urbanas, onde não se usam pesticidas, vem do esgoto”, disse Jardim. “E como eu meço esgoto? Quando você capta água e passa na estação de tratamento, se você faz uma desinfecção muito boa, a impressão digital do esgoto desaparece. Então fomos buscar uma impressão digital química, que não seja destruída na cloração, que possa ser parcialmente removida na estação de tratamento da água, mas que ainda permaneça em quantidades mensuráveis. E a cafeína se mostrou um excelente indicador”. 
De acordo com ele, algumas estações de tratamento são capazes de remover até 99% da cafeína da água. “Então, mesmo quantidades muito pequenas podem indicar que o estresse do manancial por esgoto é alto”, disse.

No ranking das cidades brasileiras elaborado pelo INCTAA, a maior concentração de cafeína na água servida à população foi encontrada em Porto Alegre, com uma média de 2.257 ng/l, seguida por Campo Grande (900 ng/l) e Cuiabá (222 ng/l). A capital onde a água é menos contaminada é Fortaleza, com 2 ng/l. “As cidades litorâneas costumam jogar seu esgoto no mar”, lembrou Jardim. “Isso tende a manter a contaminação do manancial baixa, embora talvez não seja uma boa ideia nadar por ali”. Manaus também tem uma concentração baixa para os padrões brasileiros, de 8 ng/l. “É difícil saturar o Rio Negro com esgoto”, ponderou o pesquisador.
Já no ranking de mananciais, a região metropolitana de São Paulo aparece como a mais contaminada, com um nível médio de cafeína de 4.791 ng/l, sendo que a Represa Billings conta com 18,8 mil ng/l. 

Jardim disse que, em mananciais da Europa, é difícil encontrar níveis de cafeína acima de 20 ng/l. “Em termos de contaminantes emergentes, no Brasil, bebemos água com qualidade comparável à da água não tratada lá de fora”, disse ele.

O pesquisador lembrou que a qualidade da água nos mananciais se deteriorou muito nas últimas décadas, mas o processo de tratamento não foi atualizado de modo correspondente. “Existe a tecnologia para dar o chamado polimento na água”, removendo boa parte dos contaminantes emergentes, disse ele. Mas ela não é usada no Brasil porque a lei e os regulamentos sanitários não exigem. “As tecnologias não são adotadas por inércia e pelo respaldo que as concessionárias têm na portaria do Ministério da Saúde”.
Em sua opinião, a visão de saneamento prevalente no Brasil ainda é a da contaminação com efeitos agudos e imediatos, como um surto de cólera, por exemplo. “Mas os interferentes endócrinos podem levar anos para mostrar seus efeitos, ou mesmo uma geração”. 

Ele cita o caso do DES, um hormônio artificial receitado para mulheres grávidas entre as décadas de 40 e 70, e que depois, descobriu-se, causava problemas reprodutivos para as filhas dessas mulheres, incluindo esterilidade. “Como se descobriu isso? Só anos depois, quando as filhas chegavam à idade fértil”, disse o pesquisador.
Jardim afirmou que seria importante que as empresas de saneamento mantivessem, pelo menos, um controle do nível de cafeína em suas águas, para poder resgatar a história da contaminação, e que as pessoas passassem a pressionar por um tratamento mais completo da água que vão consumir. “O brasileiro se pergunta como ele pode purificar a água na sua casa”, disse. “Essa é a pergunta errada. A questão certa é: como posso pressionar a concessionária da minha cidade a me fornecer uma água melhor?”

Estudo acha hormônio sexual em água na região de Campinas

09/12/2006 - 10h51- FOLHA - COTIDIANO

MAURÍCIO SIMIONATO - 
da Agência Folha, em Campinas

Estudo da Unicamp sobre a qualidade da água para consumo e de rios da região metropolitana de Campinas (95 km de SP) --onde vivem cerca de 2,5 milhões de pessoas-- revela a presença de hormônios sexuais e de compostos derivados de produtos farmacêuticos e industriais.

Algumas dessas substâncias podem interferir na saúde humana ao alterar o funcionamento de glândulas do corpo. No entanto, não há estudos que indiquem quais problemas podem ser causados pela ingestão crônica dessas substâncias.

A pesquisa coletou, durante quatro anos, amostras de água bruta e potável na bacia do rio Atibaia, o principal manancial da região, que abastece cerca de 92% de Campinas.

O monitoramento de substâncias na água foi feito para 21 compostos: seis hormônios sexuais, quatro esteróides derivados do colesterol, cinco produtos farmacêuticos e seis produtos industriais.

Na água potável, foram identificadas desde progesterona (hormônio sexual feminino) até cafeína, bem como colesterol e os hormônios estradiol e etinilestradiol, além de compostos usados em remédios e na indústria. Os fármacos (substâncias químicas usadas como remédios) detectados na água são muito utilizados como analgésicos, antiinflamatórios e antitérmicos. As concentrações de fármacos na água bruta do rio foram maiores do que na água potável.

Os compostos identificados não deveriam estar presentes na água consumida pela população. Contudo, não há legislação que fixe níveis toleráveis para essas substâncias. Algumas, como a cafeína, foram encontradas em concentração até mil vezes maior do que em países europeus.

A média de hormônios femininos encontrados na água potável de Campinas é de um micrograma por litro. Portanto, ao beber dois litros de água por dia, uma pessoa pode ingerir 60 microgramas dessas substâncias por mês.

"Não há dados conclusivos sobre quais danos ao homem são causados por exposição crônica a esses compostos. Mas eles não deveriam estar presentes na água potável. O resultado do estudo é bastante preocupante", disse o professor Wilson de Figueiredo Jardim.

Tanto os hormônios como os fármacos são excretados pela urina ou fezes, chegando aos rios pelo esgoto.

Segundo a autora da pesquisa, Gislaine Ghiselli, alguns estudos semelhantes foram feitos nos EUA usando água bruta de rios. Para o hormônio progesterona, por exemplo, foi identificada uma média de 0,11 microgramas por litro. No rio Atibaia, a média foi de 1 micrograma por litro na água potável.

Para empresa, teor detectado é muito baixo

O coordenador de Análise e Controle de Água da Sanasa (empresa de água e saneamento), Ivânio Alves, disse que as substâncias monitoradas no estudo da Unicamp não são contempladas por órgãos estaduais, federais e internacionais da saúde, com relação à qualidade da água para consumo humano.

Segundo Alves, a Sanasa segue normas federais de 2004, que estabelecem "procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade". Alves disse ainda que as substâncias monitoradas pela Unicamp na água para consumo foram detectadas em "valores muito baixos em comparação a outros produtos alimentícios".

Com relação aos hormônios, a Sanasa informou que "os teores detectados são baixos em comparação com anticoncepcionais e com aditivos colocados na alimentação animal". O coordenador da Sanasa usou a mesma explicação --de baixa concentração encontrada-- para as outras substâncias verificadas na água
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sábado, 25 de outubro de 2014

Noticia mentirosa destrói família

Foi numa segunda-feira, 28 de março de 1994, que a mídia iniciou uma série de erros e mentiras na falta de conduta ética e jornalística mais clássica da década de 90. O caso da Escola de Educação Infantil Base, referência negativa para o meio jornalístico, fatídico para os envolvidos foi o episódio negro do que se convencionou chamar de jornalismo sensacionalista. Algo que 11 anos depois faz raciocinar as amarras e relações éticas da mídia, do compromisso com a verdade e não com a vendagem, de como uma mentira pública pode destruir a integridade de seres humanos e da promíscua relação com a fonte oficial. Se a idéia era chocar a opinião pública, conseguiu, mas atirou no próprio pé e prejudicou muita gente.
O fio da meada
Antes do "circo da mídia" duas mães, Cléa Parente de Carvalho e Lúcia Eiko Tanoue, procuram a polícia na região da Aclimação, São Paulo, no 6º Distrito, com uma denúncia de abuso sexual contra seus filhos de 4 anos, alunos da Escola Base. A queixa era contra os donos da escola, Icushiro Shimada e sua esposa Aparecida Shimada e o casal de sócios Paula e Maurício Alvarenga. Segundo elas essas pessoas organizavam orgias sexuais com a participação de seus filhos, filmando e fotografando tudo. Além destes, outro casal foi acusado pelas duas mães, Saulo e Mara Nunes, pais de outro aluno da Base. À época, a TV Cultura noticiou: "Lúcia ouviu seu filho dizer que, junto de Carla, foi à casa de um coleguinha da escola, Ronaldo, 4 anos, filho do casal Saulo e Mara Nunes. Contou ter visto filmes de 'gente pelada', que batiam 'fotos' e havia cama redonda. Tudo isso aconteceria durante o horário das aulas, e as crianças seriam levadas para fora da escola na Kombi de Maurício".
O circo estava armado
O delegado de plantão era Antonio Primante, mas quem o substituiu no caso foi Edélcio Lemos. Primante fez o dever de casa: encaminhou as duas crianças para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e com um mandato de busca e apreensão, dirigiu-se ao apartamento de Saulo e Mara Nunes, acompanhado de seis policiais, Cléa e Lúcia. No apartamento nada encontraram além de uma cama retangular, uma fita de vídeo com um show do cantor Fábio Jr. e filmes da máquina fotográfica do casal. Na escola encontraram uma coleção com fitas de Walt Disney. "Eram 17h30 da tarde, mais ou menos, estávamos lá dentro conversando. De repente toca a campanhia e desci para abrir o portão. Abri o portão e a rua tava cheia. Delegado me segurou: polícia!", relata Icushiro Shimada. Sem provas eles retornaram com as mães para a delegacia. O Diário Popular foi o único veículo a acompanhar as buscas no dia 28 e também o único que nada noticiou durante os quase três meses de caso. Na época, o diretor Jorge de Miranda Jordão percebeu, de início, as contradições do episódio. Já na delegacia Cléa Parente telefonou para a Rede Globo e com a chegada da reportagem a polícia resolve escutar os acusados.
Um erro após o outro
A barbárie noticiosa começou pelo jornalismo do Jornal Nacional e a mídia grande bebeu as denúncias sem duvidar da veracidade. No dia 30 um telex do IML já adiantava o resultado parcial do exame do menino Fábio, filho de Lúcia: "Referente ao laudo nº 6.254/94 do menor F.J.T. Chang, BO 1827/94, informamos que o resultado do exame é positivo para a prática de atos libidinosos. Dra. Eliete Pacheco, setor de sexologia, IML, sede". O resultado parcial bastou. Mesmo sem provas e percebendo a sede dos jornalistas pelo episódio o delegado Edélcio virou celebridade. De um lado a imprensa, com o passar dos dias, criou um viés sensacionalista para as denúncias de abuso sexual e de outro Edélcio passava informações sem embasamento. Mais três denúncias surgiram. Os jornais se adiantavam ao inquérito policial, ou até traziam informações que nem lá constavam. Como na matéria do dia 31 de março do Jornal Nacional, que sugere o consumo de drogas durante as supostas orgias, ou a possibilidade de contágio com o vírus HIV, em decorrência dos abusos. O caso ficou conhecido. Inicialmente com acusações de molestar sexualmente duas crianças, os acusados terminaram a semana drogando, e, possivelmente, transmitindo Aids para as mesmas. Quando os acusados ganham espaço o delegado já se sentia confortável nas atitudes que tomava. Em 5 de abril ele pede a prisão preventiva de todos os suspeitos - mas isso não foi divulgado, a intenção era prendê-los de surpresa. Saulo e Mara são presos ao se apresentar para o suposto depoimento. São soltos três dias depois. A advogada do casal teve acesso ao laudo final do IML. A vista aconteceu acidentalmente uma vez que Edélcio não mostrava para ninguém a pasta do inquérito. O resultado do exame final: inconclusivo. As lesões encontradas poderiam ser atribuídas tanto a coito anal quanto a problemas intestinais (mais tarde, a segunda explicação seria confirmada). Lemos foi afastado do caso. Em seu lugar assumiram Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. A investigação foi reiniciada.
O americano e as manchetes
Uma denúncia anônima levou a polícia à casa de Richard Pedicini. Ele seria o contato internacional dos acusados filmando e fotografando crianças de várias idades e promovendo as orgias no seu casarão. Ele ficou preso nove dias. Nesse meio tempo nada provou a ligação com a Base. Gérson de Carvalho foi a público desmentir a ligação entre um caso e outro. Mesmo voltando atrás a imprensa já havia bombardeado as pessoas com notícias sensacionalistas. O Notícias Populares (hoje extinto) foi de longe o mais pejorativo dos veículos de mídia com manchetes do tipo: "Kombi era motel na escolinha do Sexo", "Americano taradão ataca na aclimação", "Perua escolar levava crianças pra orgia no maternal do sexo" e "Exame procura a Aids nos alunos da escolinha do sexo". A revista Veja publicou em 06 de abril: "Uma escola de horrores" e todos os jornais tratavam o caso de forma parcial. Se não expressamente, deixavam claro o teor "sensacional" dos fatos, o que contribuiu para a execração pública.
Enfim, inocentes
No dia 22 de junho Gérson inocentou os seis acusados. Ao contrário do que Edélcio disse quando perguntado sobre as provas: "Vocês ficam falando de provas, provas, o inquérito é a prova". O inquérito do Caso Escola Base foi arquivado, pois é um documento de apuração e investigação e ele nada continha que incriminasse os sete acusados. A conclusão do delegado: "se houve crime, este ocorreu em outro lugar e tendo outros personagens".
A opinião pública e a Escola Base
Onze anos após a absolvição legal, os acusados nunca mais tiveram paz. Suas vidas foram destruídas e nenhuma compensação financeira foi paga até hoje. "Acaba com o sujeito. Você não levanta mais não, amigo. Que nem eu, eu tô com 60 anos, rapaz, e tô aqui engatinhando. Estou pendurado no banco e até hoje estou pagando. Não tenho conta, não tenho cheque, não tenho porra nenhuma!", desabafa Icushiro Shimada. Com exceção da Folha de S. Paulo, que fez um seminário e escreveu um editorial mea culpa, nenhum outro veículo se retratou. Nesse trecho do editorial a Folha diz: "(...) sempre tratou os envolvidos como acusados ou suspeitos, evitando toda espécie de prejulgamento". Curioso é que não mencionam o jornal Notícias Populares, de propriedade do grupo Folha da Manhã (Empresa que publica a Folha de S. Paulo). A opinião pública, implacável e baseada em informações imprecisas de um caso envolvendo crianças, se posicionou contra os donos da Base. A seqüência da história foi um assassinato social: todos tiveram que abandonar suas casas para não receber castigos físicos, a escola foi depedrada e saqueada, a casa de Maurício e Paula teve o muro pichado - "Maurício estuprador de criancinhas" - e seus rostos ficaram marcados como molestadores de crianças.
Será que não perceberam?
Três detalhes chamam a atenção para os equívocos da mídia no caso: um delegado afirma que tem fotos e fitas de vídeo que mostram adultos fazendo sexo com os alunos, mas não mostra o material alegando que poderia prejudicar as investigações. As crianças foram interrogadas (crianças de quatro anos) sem a presença de um psicólogo e suas declarações tomadas como verdades absolutas e noticiadas sem o menor critério de apuração. E o laudo do Instituto Médico Legal (IML), ambíguo, e utilizado pelo delegado como prova cabal dos abusos quando, na realidade, as lesões no ânus de uma das crianças era compatível com a excreção de fezes ressecadas e, mais tarde, se confirmaria, eram conseqüência de um sério problema intestinal do garoto.
Os dias atuais
Em 95, Shimada, Paula e Maurício moveram uma ação por danos morais contra a Fazenda Pública (Estado). Eles ganharam nas duas primeiras instâncias e aguardam até hoje a sentença final que virá de Brasília. Isso pode levar mais alguns anos. Em 2003 foram processados também por danos morais os veículos Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Globo, SBT, Record, Rádio e TV Bandeirantes, revistas Veja e IstoÉ. Shimada teve três enfartes desde 94, fuma bastante e tem medo de andar na rua. Atualmente toca a vida numa xerox no centro de São Paulo. Sua esposa faz tratamento psicológico desde o episódio. Os outros acusados se mudaram para o interior. Os repórteres que cobriram o caso continuam suas vidas profissionais normalmente. Nenhum veículo foi punido, nenhuma desculpa foi dada com o mesmo espaço das acusações.
Thiago Domenici é jornalista da revista Caros Amigos e um dos autores do vídeo-documentário sobre o Caso da Escola Base. Contato: thiagodomenici@carosamigos.com.br.

sábado, 18 de outubro de 2014

Padre Marcelo Rossi fala sobre depressão, política e anorexia em entrevista

Publicação:18/10/2014 10:50 - Diário de Pernambuco
Pároco lança em outubro o álbum 'O tempo de Deus', influenciado pela depressão e lamenta: "O Brasil precisa de propostas"
Padre Marcelo acredita que novo CD vai ajudar as pessoas (Pároco acredita que novo CD vai ajudar as pessoas. Foto: Marcos Hermes/Divulgação)
Padre Marcelo acredita que novo CD vai ajudar as pessoas

Com uma abertura impressionante, o padre Marcelo Rossi fala sobre os distúrbios alimentares e psicológicos pelos quais passou nos últimos anos. Para os que se espantaram com a magreza exibida no último domingo, no programa 'Fantástico' (Globo), questionada por internautas, ele alivia: “minha saúde está ótima”.


Os quilos a menos são assegurados por uma dieta balanceada - nada de água, alface e hambúrguer, como no ápice da anorexia - e cerca de dez quilômetros diários percorridos na esteira. O hábito é anterior à batina: o pároco do Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, é formado em educação física. Mas também pelo jejum ao qual se submeteu durante a composição das 14 canções do novo disco, 'O tempo de Deus' (Sony, R$ 10).



O projeto é o primeiro influenciado pela depressão e anorexia. “O CD vai ajudar muito as pessoas tristes. Muita gente pensa que depressão é frescura. Não cheguei a uma depressão forte, mas foi um princípio. Até então eu não sabia o que era isso. Eu estava sem remédio ou psicólogo. Foi através da oração e conscientização”, confessa.



No próximo ano, ele deve percorrer cidades brasileiras para divulgar o livro 'Philia', já entregue à Editora Globo. “É contra 14 males, como depressão, ansiedade, autoestima baixa. Eu vou poder ajudar muito às pessoas”, acredita o religioso. Para ele, compartilhar as próprias experiências é uma forma de chamar a atenção das pessoas para o problema.



'O tempo de Deus' tem 14 faixas escritas por Rossi, que abdicou dos direitos autorais para reduzir o valor de venda, R$ 10. conta. A renda será revertida para a capela dele.



Entrevista: Padre Marcelo Rossi



O senhor foi um dos primeiros a despontar como padre cantor e este segmento se mantém muito forte. Por quê?
Se pensar bem, na mídia do mundo, eu fui o primeiro, em 1998. Tive o contato com o papa João Paulo II em 1997 e ele que nos incentivou a ir aos veículos. Terminei com o filme, 'Maria: Mãe do filho de Deus'. O cardeal Ratzinger não só reconheceu meu trabalho mas me presenteou com a honraria Van Thuân (em 2010). Agora, eu sentei com a Sony e disse “quero um CD de R$ 10”. A inflação está mascarada, mas incrível, eu queria um produto barato. “Eu serei o autor de todas as músicas”. Eu sempre pegava uma música minha, mas também de outros, para divulgar. Minha preocupação era ter algo de qualidade, espiritualidade e saiu essa bênção. Está lindo. Ele vai envolvendo você. Eu renunciei à parte autoral. Só recebo como intérprete. E mesmo assim, todo o dinheiro vai para a capelinha do santuário.



Por que esse preço (R$ 10)?
Eu fiz uma pesquisa. A maioria das pessoas, o grande público que me acompanha e da classe C. Eu sei pelo Santuário. Para a classe C, um CD a R$ 20 é muito caro. No Santuário, tem pessoas que compram três, quatro, cinco. Todos já lançaram, porque sabiam que o fim do ano seria terrível. Agora, eu vou em todos os programas, sem negar nenhum, levando essa novidade.



A música é importante para divulgar a religiosidade?
É fundamental. No fim do quarto século, Santo Agostinho escreveu “quem ama canta”. O livro também é importante. Com 'Ágape', foram dez milhões de exemplares. Foi o livro mais vendido fora a Bíblia aqui no Brasil. A música é fundamental. Já estou terminando um livro. 'Philia' é contra 14 males, como depressão, ansiedade, autoestima baixa. Eu vou poder ajudar muito as pessoas. Vou lançar no ano que vem, em cidade por cidade, como Ágape, coisa que não fiz com Kairós. Olha a diferença: 'Ágape' vendeu 10 milhões de cópias. 'Kairós', dois milhões. Mas eu estava muito inchado, tomando anti-inflamatório. Depois fiquei viciado no remédio. Meu médico disse para parar com o remédio, que não tinha mais nada. Eu tinha medo de a dor voltar. Fiz a dieta, exagerei. Fiquei meio mal.



Você indica psicólogo para pessoas em depressão?
Sinceramente, sim e não. Para que serve o padre? É um médico de almas. A grande maioria das pessoas está carente. Elas não têm com quem falar. Você precisa ensinar as pessoas a se abrir com Deus. Meus amigos psicólogos concordam. O CD é antidepressivo. A primeira faixa é uma declaração, são momentos em que estava muito angustiado. Gravei esse CD jejuando. Por isso também emagreci bastante. Fiquei sem comer, a pão e água, só alface. Jesus fala que a oração é fundamental. Tanto que fiz o CD, o livro já está com a editora Globo.



Então é por isso que o senhor está mais magro?
Estou com o mesmo peso. Pega o filme 'Maria' e me compara. Estou igual. As pessoas estão estranhando o peso 80 e poucos, mas cheguei a 60 quilos. E ao pico máximo de 125. Estava quase obeso mórbido. Não quero músculo. Diariamente, faço 10 km por dia, entre corrida e caminhada. Com esse peso, me aliviou outro problema. Nunca reclamei, mas tenho problema na coluna, na lombar. Estava tomando mais remédio, só que isso destrói o fígado. Imagina com dor. Tenho discopatia degenerativa, como uma dor faquinha incomodando. Essa foi minha grande libertação. Esse peso que estou agora é o que eu quero. Tenho que manter a alimentação regrada. Tenho 1,95m. É difícil entrevistar alguém, porque você está preocupado com o que vai dizer e não ficar com a coluna corcunda. Uma das coisas que aprendi quando vou fazer esteira é olhar para a televisão. Para cair, é rapidinho (ele já se acidentou na esteira). Quando fico sem esteira, meu dia já é outro, porque você libera endorfina, que existe também no chocolate.



O senhor come chocolate?
Na verdade, não. Mas, se deixar, como uma caixa inteira. Vou confessar: na semana passada, me deu um ataque de fome e comi a caixa inteira. Como estou bem magro, tudo bem. É minha tentação, porque injeta para você a endorfina.



Então sua saúde está bem? E o senhor não está mais comendo só alface?
Está ótima. E dieta balanceada. Não posso nem ver hambúrguer ou alface.



Suas primeiras músicas eram marcadas por melodias dançantes. 'O tempo de Deus' tem outro ritmo, mais lento...
Esse CD está realmente buscando ajudar a quem passa por uma situação difícil. Todo mundo estava preocupado se o padre Marcelo está bem. Quis um CD mais profundo, intimista. Esse é o segredo do CD. E o povo está amando. Eles estão apaixonados. Vai ser uma bênção.



O senhor acha que vivemos um momento em que as pessoas se distanciam da Igreja, da religião?
Uma das minhas grandes preocupações é as pessoas se esqueceram de Deus. Sem Deus, ele cai em depressão, bebida, droga. Ela cai em alguma coisa errada. Mais do que nunca, falta Deus. Eu vou tentar falar muito na televisão sobre isso. O CD vai ajudar as pessoas a se encontrar com Deus. São inúmeras forças que querem o nosso mal, inveja... É importante sentir a proteção divina.



A renda dos seus discos é doada?
Eu tenho um santuário com capacidade para 100 mil pessoas. E sou pároco agora. As grandes celebrações, tudo bem, mas não vou usar aquele espaço enorme para fazer missa diária. Preciso fazer uma capela. E fiz o santuário sem pedir dinheiro para ninguém. Você nunca me viu pedir dinheiro. Eu trabalho e eu doou. Eu poderia ficar para mim. É meu, é lícito. 



O que o senhor acha do Tempo de Salomão?
É a cópia da bíblia. Mas não vivemos o Antigo Testamento, vivemos o novo. Depois de Jesus, quem é Salomão? O Salomão acaba sendo um templo de esplendor. Uma coisa magnífica, mas o importante é ter um lugar abençoado. A gente passa e ele fica. No santuário que construí, os padres podem ser enterrados lá. Quando morrer, vai ter alguém celebrando a missa por mim.



'Tempo de Deus' tem apenas composições suas. Como é seu processo de criação?
Nossa, foi muito legal. Foi uma experiência muito mística. Não fui eu, foi Deus. Eu trabalhei em um momento difícil. Cada música foi um momento difícil e uma resposta que Deus me deu. 'Sonhos de Deus' foi o momento em que eu estava começando a ficar com anorexia. Apesar de as pessoas falarem “você está magro”, você se enxerga gordo. A letra ajuda muito.



Como apoia os jovens que querem seguir o caminho da música religiosa?
Eu procuro ajudar sempre que posso. Divulgo na rádio que tenho. O CD não tem faixa etária. A depressão é o mal do século. Acomete até crianças. Eu acho que é muita informação e pouca formação. Eu passei por isso. 



O senhor se considera uma pessoa vaidosa?
Já fui muito. A cada dia, estou me libertando. Eu trabalhava com educação física. Querendo ou não, fui muito vaidoso, com culto ao corpo. Tanto que muita gente fala “volta a treinar, você fica forte”. Não quero estar magro de doente, como no ano passado, que estava sem energia. Estou com o peso que sempre tive, meu biótipo. Minha referência é 2012, no filme Maria.



Em quem vai votar nessas eleições?
A igreja católica nunca apoia ninguém. A igreja aprendeu que não se une política e religião. Eu sou contra padres que tentam eleição. Ele largou tudo para ser padre ou pastor. Não dá para misturar líder espiritual com político. Está errado. 



Uma das grandes discussões do debate eleitoral foi o preconceito contra a comunidade LGBT. O que o senhor achou do teor das afirmações?
Sinceramente, eu procuro ficar fora dessa discussão. Estou tão triste. Hoje tem o debate. Muito para mim vai ser desse debate, que vai ser importantíssimo. Como eu, pessoas estão esperando. Até agora, tem sido muito ataque, poucas propostas. O Brasil precisa de propostas. Estarei lá, assistindo, às 22h15. Se, até 23h, sentir que descamba pra o ataque, desligo a TV. 



E anula o voto?
Sou contra. Quero tentar o menos pior. Nunca deixei de votar. Só digo isso, nunca deixe de votar. Estou rezando para que eles tenham o equilíbrio de falar ideias. Não me interessa isso de jogar a culpa.

 HOMÍLIA DOMINICAL  24 DE DEZEMBRO DE 2023. 4º DOMINGO DO ADVENTO LEITURA DO DIA Primeira leitura -  Leitura do Segundo Livro de Samuel 7,1-...