sábado, 6 de dezembro de 2014

Com nova igreja definida, padre vítima de racismo só espera 'ser acolhido'

06/12/2014 15h53 - G1 - Atualizado em 06/12/2014 15h55
Grupo de moradores pediu sua saída de paróquia em Adamantina.

Pároco deve assumir santuário em Dracena, conforme decisão da Diocese. 

Vinícius Pacheco e Stephanie Fonseca

Do G1 Presidente Prudente
Padre ficou um ano e dez meses em Adamantina, na Paróquia Santo Antônio (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Padre ficou um ano e dez meses em Adamantina, na Paróquia Santo Antônio (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Apesar da mobilização pela sua permanência na Paróquia Santo Antônio, em Adamantina, o padre Wilson Luís Ramos deve ser transferido nos próximos dias para o Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Dracena. O anúncio foi feito no final da tarde desta sexta-feira (5), por meio de circular enviada pela Diocese de Marília, segundo o pároco. “Só espero ser bem acolhido”, diz o sacerdote, que foi vítima de racismo durante o período de um ano e meio que ficou na paróquia atual, em entrevista ao G1.
Ramos explica que a data exata da mudança não está definida, porém já está com as malas prontas. “Comecei a me preparar assim que foi anunciada minha transferência para outra cidade. Só quero que esta minha passagem por Dracena seja mais tranquila. Em meus vários anos como padre, foi a primeira vez que tive problemas com a população”, conta.
O padre, de 50 anos, estava em Adamantina há um ano e dez meses. Sua saída da igreja atual foi definida no dia 28 de novembro. Em nota, o bispo Luiz Antônio Cipolini, responsável pela paróquia, informou ter encontrado uma “paróquia dividida, com grave prejuízo ou perturbação à comunidade eclesial. “Não consigo enxergar, nesta situação, nem vencedores e nem vencidos, apenas pessoas que amam a Jesus Cristo e à sua Igreja e querem trabalhar pelo crescimento do Reino de Deus”, aponta o pronunciamento oficial.

Entretanto, Ramos explica que um grupo de pessoas realizou reclamações à Cúria, com o objetivo de retirá-lo da cidade. “Eu acho que o bispo deve ter ouvido estas queixas. Eu vou respeitar esta ordem. Não foi minha vontade, mas respeito a decisão”, explica.
Padre tem 50 anos e diz que nunca imaginou presenciar atitude racista por parte dos fiéis (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Padre tem 50 anos e diz que nunca imaginou presenciar
atitude racista por parte dos fiéis
 (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
O pároco relata que viveu situações de racismo desde sua chegada em Adamantina, porém as “brincadeiras” nunca causaram abalo durante suas celebrações. “Já falaram que deveriam trocar o galo de bronze, que fica em cima da igreja, por um urubu. Muita gente conversa comigo e diz que fazem piadas sobre mim, porém isso nunca afetou a minha vida”, aponta.
As críticas ao padre não representam o que grande parte dos moradores da cidade, que tem pouco mais de 33 mil habitantes e está localizada no Oeste Paulista, defende. Um abaixo-assinado, que já colheu aproximadamente 7 mil assinaturas, pede a permanência do religioso no município. Segundo o organizador do movimento, o jornalista Danilo Ferreira, “o padre Wilson tem que continuar”.
“Estamos organizando um ato em frente à igreja durante as missas pedindo a permanência dele e vamos fazer faixas contra o racismo. Nunca presenciei o ato, mas já ouvimos comentários de que existe uma parcela de fiéis que não aceitam o padre por causa da cor. Eles fazem comentários e brincadeiras maldosas”, esclarece.
Os apoiadores de Ramos se instalaram em frente a algumas lojas do comércio de Adamantina para recolherem as assinaturas. Além disso, o movimento “Fica, Padre Wilson” se organiza por meio das redes sociais. Só em uma das páginas de apoio ao pároco, existem quase 2 mil participantes.
Wilson Luís Ramos nasceu na capital paulista, mas morou desde criança em Tupã (SP), no interior do Estado. Nesta última cidade se tornou padre e celebrou missas em diversas igrejas. “A religião esteve presente na minha vida desde pequeno. Desde jovem, já tinha em mente a decisão de ser padre”, conta.
Filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica, o sacerdote afirma que já tinha sofrido ofensas quando pequeno, porém não esperava esse comportamento por parte dos fiéis. “Minha família me passou valores que eu levo para a minha vida toda, além de ter me iniciado na igreja. Mesmo quando pequeno, não me abalei com a situação. Mas sei que existem aqueles que não aceitam pessoas negras”.
O G1 tentou entrar em contato com a Cúria Diocesana de Marília, porém não obteve sucesso. Por telefone, a equipe de reportagem ligou para o bispo Luiz Antonio Cipolini, porém foi informada de que ele “tinha muitos compromissos e que dificilmente iria falar com alguém neste sábado”.
Segundo Ramos, só um "milagre" poderia impedir que ele vá para Dracena. “Eles não são impossíveis. Eu só peço que as pessoas não discriminem o próximo e passem uma mensagem de paz uns aos outros. Espero que na nova igreja tenha uma recepção mais tranquila. Eu agradeço toda a população e peço desculpas se incomodei alguém”, finaliza.


Meta é recolher 20 mil assinaturas  (Foto: Franciele Spina Lucas/Cedida)
Abaixo-assinado já recolheu aproximadamente 7 mil assinaturas (Foto: Franciele Spina Lucas/Cedida)

























Planilha de doleiro lista projetos de 170 empresas no Brasil e no exterior com valor total de R$ 11,5 bilhões


  • Para juiz, material apreendido é principal indício de que desvios vão ‘muito além da Petrobras’.
© Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Para juiz, material apreendido é principal indício de que desvios vão ‘muito além da Petrobras’
Uma planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef, que lista 750 obras de infraestrutura de 170 empresas, a maioria empreiteiras, é um dos principais indícios que levam o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, a suspeitar que o esquema criminoso que desviou recursos de obras da Petrobras alcança outros setores da administração pública. Usada pelo doleiro para acompanhar suas negociações e projetos em andamento, a planilha lista valores que, somados, chegam a R$ 11,5 bilhões - 59% das obras estão ligadas à Petrobras. Num despacho em que negou a revogação da prisão preventiva do executivo Erton Medeiros Fonseca, presidente da Divisão de Engenharia Indusrrial da Galvão Engenharia, Moro afirma que a apreensão da planilha é "pertubadora" e sugere que "o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras".

A lista de Youssef, a qual O GLOBO teve acesso, é formada basicamente por empreiteiras citadas e investigadas na Operação Lava-Jato por obras com a Petrobras. Os projetos pertencem a setores como aeroportos, irrigação, energia, mineração, transporte e saneamento básico, a maioria feito com recursos federais e, em muitos casos, tocados por governos estaduais. Além de obras no Brasil, a planilha lista algumas realizadas no exterior, incluindo o Porto de Mariel, em Cuba, que recebeu financiamento do BNDES. O porto cubano está relacionado à "cliente" Odebrecht Logística e o valor anotado à frente do projeto é de R$ 3,6 milhões. Até maio passado, o BNDES já havia repassado pelo menos R$ 1 bilhão à construtora Odebrecht pela reforma do porto de Mariel, em Cuba.

A planilha não é o único documento que levanta suspeita sobre financiamentos a obras no exterior. A Polícia Federal identificou visitas do advogado Alexandre Portela Barbosa, da construtora OAS, ao escritório do doleiro Alberto Youssef logo após ter retornado de viagens ao Peru. No dia 16 de setembro de 2013, Barbosa esteve no escritório do doleiro, onde ficou por cerca de 50 minutos. No dia seguinte, ele embarcou num voo com destino a Lima, a capital peruana. No dia 16 de janeiro passado, Barbosa chegou ao Brasil, vindo de Lima, e, no dia seguinte, foi até o escritório de Youssef - chegou às 14h02m e saiu às 15h31m. Preso temporariamente, Barbosa foi libertado e não há informação que tenha colaborado com a investigação. 

O nome da empreiteira OAS também aparece vinculado a obras no Uruguai e n Argentina. Para a construção de um gasoduto argentino, o BNDES liberou US$ 200 milhões. Segundo a investigação que justificou a prisão temporária de executivos na Operação Lava-Jato, as empresas OAS S/A e a Construtora OAS S/A transferiram, pelo menos, R$ 1.501.600,00 e R$ 5.406.017, a conas controladas por Alberto Youssef no Brasil. Depositou também USD 4.800.000,00 em conta no exterior por ele controlada. Foram identificadas ainda trocas de mensagens entre Youssef e Alexandre Portela Barbosa e Jose Ricardo Nogueira Breghirolli, ambos executivos da OAS. Outras trocas de mensagens indicam que Breghirolli era o responsável, junto à OAS, pelos contatos e negócios com Alberto Youssef, inclusive para remessas fraudulentas ao exterior. Segundo as investigações, Breghirolli teria solicitado ao doleiro a entrega de e R$ 110.000,00 a uma pessoa chamada Marice. Para a Polícia Federal, trata-se de Marice Correa da Lima, cunhada de João Vaccari Neto. Os pagamentos ao esquema do doleiro eram feitos pelo diretor financeiro da empreiteira, Mateus Coutinho de Sá Oliveira. Os agentes da PF apreenderam um cartão de visitas de Oliveira no escritório de Youssef.

Entre as obras em território nacional está citada uma feita pela construtora Lucaia, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), cujo ex-diretor de desenvolvimento e ex-presidente Clementino Coelho, irmão do ex-ministro Fernando Coelho, já havia sido flagrado na Operação Lava Jato, numa troca de emails com o doleiro, pedindo dinheiro. A Lucaia aparece na lista do doleiro com data de 2009. No mesmo ano, a construtora fechou um contrato de R$ 7,984 milhões com a Codevasf, com verba do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal. Procurada pelo GLOBO, a Codevasf informou que não foi oficialmente notificada sobre a inclusão na lista do doleiro. "Em 2009 houve contratos firmados entre a Lucaia e a Codevasf para obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário; o último contrato firmado com a referida empresa foi em 2010. De lá para cá, não houve novos contratos firmados entre Codevasf e Lucaia", completou. 


Moro afirmou no despacho de Fonseca que há indícios de que as empreiteiras pagaram propina também em obras onde não atuaram em cartel, mas em iniciativas isoladas. Lembra que a própria Galvão Engenharia admitiu pagamentos para a diretoria de Serviços entre 2010 e 2014. Fonseca, de acordo com o juiz, admitiu pagamentos de R$ 8,863 milhões à diretoria de Serviços entre 2010 e 2014. O valor foi pago em parcelas, a última delas em 24 de junho passado, por meio da empresa LFSN. Investigado pela Polícia Federal, o diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque ocupou o cargo entre 2003 e 2012. No depoimento de delação premiada, Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, afirmou que o cartel operou apenas até a saída de Duque.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Suíça vai transferir para Brasil processo do cartel de trens em SP

Sex, 05/12/2014 às 13:00 - UOL - POLITICA

Jamil Chade, correspondente
A Suíça vai transferir ao Brasil todos os processos criminais existentes contra os suspeitos no caso do cartel dos trens de São Paulo, o que significa que a Justiça brasileira receberá todos os detalhes de todas as contas dos envolvidos e que atualmente estão bloqueadas.
A informação foi dada a uma delegação de procuradores e promotores brasileiros que, nesta semana, estiveram em Berna para trocar informações sobre o caso envolvendo as empresas Alstom e Siemens e funcionários públicos nacionais. Nesta quinta-feira, 04, a Polícia Federal indiciou 33 pessoas suspeitas de envolvimento no cartel do setor metroferroviário que operou em São Paulo entre 1998 e 2008, nos governos de Márcio Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. Entre os indiciados está o atual presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira.
As informações permitirão que o Ministério Público no Brasil e promotores paulistas possam aprofundar as investigações contra João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, contra o lobista Arthur Teixeira e o também ex-diretor da CPTM, Ademir Venâncio de Araújo, que detém cinco contas na Suíça com um montante bloqueado de US$ 1,2 milhão.
Os três são considerados peças fundamentais para entender de que forma as multinacionais Alstom e Siemens operavam para garantir contratos. Outro foco do processo é o ex-juiz do Tribunal de Contas, Robson Marinho.
Na Suíça, eles estavam sendo investigados por lavagem de dinheiro e todas suas contas haviam sido bloqueadas. Com a transferência, todos os extratos bancários e todas as informações seriam também entregues. "Esse é o cenário de pesadelo para os suspeitos", disse Silvio Marques, promotor paulista que fez parte da delegação.
Para que seja concretizada, a transferência do processo ainda precisa passar pelo Ministério da Justiça na Suíça. O Brasil não seria contrário em aceitar o processo. No caso das contas do ex-prefeito Paulo Maluf no exterior, o STF chegou a pedir a Luxemburgo, França e Jersey que os processos fossem transferidos ao Brasil.
Desde quarta-feira, uma delegação de procuradores e promotores brasileiros esteve em Berna em encontros com o Ministério Público da Suíça. A meta tanto dos suíços quanto dos brasileiros é identificar o percurso do dinheiro encontrado em contas em Zurique e que poderiam ser propina paga por empresas como a Alstom e a Siemens para garantir contratos públicos no Brasil.
Há meses os brasileiros vinham pedindo para que as informações sobre as contas desses suspeitos e, até agora, Berna tinha evitado abrir seus arquivos. Hoje, porém, fontes do MP suíço confirmaram à reportagem que o acesso aos detalhes das contas já bloqueadas foi garantido aos brasileiros.
Os documentos seguem nas próximas semanas por meio dos canais oficiais. Mas as informações passadas aos brasileiros durante as reuniões apontou para novas evidências e novas provas de como as propinas eram pagas pelas multinacionais.
A delegação brasileira, composta pelo procurador da República Rodrigo de Grandis e pelo promotor de Justiça Silvio Marques, admitiu que ficou "surpresa" com a indicação dos suíços.
Quando retornar ao Brasil, na semana que vem, De Grandis vai avaliar o informe preparado pela Polícia Federal e decidir como incorporar as informações dos suíços. "Vamos avaliar qual é a melhor estratégia", disse. Para ele, os extratos bancários e documentos dos suíços "certamente" vão além da apuração realizada até hoje no Brasil desde o início do caso.
Num esforço de demonstrar que existe uma cooperação, um dia antes da reunião de Berna, a Polícia Federal fez busca na residência e no escritório de Zaniboni, no que foi uma operação executada justamente a pedido do Ministério Público da Suíça ainda em 2011 e jamais realizada. Berna abriu investigação sobre a origem os mais de US$ 826 mil que Zaniboni manteve depositado em Zurique. O ex-diretor garante que o dinheiro foi resultado de uma consultoria que prestou.
Os suíços haviam concluído o caso que existia contra a Alstom, depois que a multinacional pagou uma multa milionária e encerrou o processo em Berna. Mas, agora, as suspeitas são contra brasileiros que teriam usado o sistema bancário suíço para lavar dinheiro fruto dessa corrupção.
O que chama a atenção dos suíços é que parte do dinheiro foi depositado por Arthur Teixeira, apontando pela PF aponta como o pagador de propinas do cartel de trens. Dados bancários de posse dos suíços revelam de fato o nome de Teixeira e é justamente essa informação que o Brasil também quer levar de volta ao País quando deixar Berna na sexta-feira.

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