quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Missa antiga: com as novas normas os fiéis devem ser orientados
Cardeal Blase Cupich, Arcebispo de Chicago 

O cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago em reflexão resultante de um encontro com sacerdotes, fala sobre o motu proprio do Papa "Traditionis custodes" para destacar sua riqueza e indicar alguns princípios orientadores necessários para a compreensão e a implementação pastoral do texto

Gabriella Ceraso – Vatican News

Uma profunda compreensão da reforma do Concílio Vaticano II e a unidade da Igreja. Estas são as duas pedras angulares do motu proprio Traditionis custodes, sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, que o Papa publicou em julho passado. Para uma apropriada compreensão em nível diocesano é necessário o acompanhamento dos pastores e a oração de todos com as palavras que o próprio Jesus disse: "Que todos sejam um, Pai".

A reflexão é do arcebispo cardeal de Chicago, Dom Blase Cupich, em resposta a uma pergunta feita a ele por um grupo de sacerdotes durante uma reunião. O cardeal recorda o documento papal que estabelece - recordamos - que "Os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano e que a responsabilidade de regular a celebração de acordo com o rito pré-conciliar deve ser do bispo, moderador da vida litúrgica diocesana". "É de sua competência exclusiva", estabelece o motu proprio, "autorizar o uso do Missale Romanum de 1962 na diocese, seguindo as orientações da Sé Apostólica".

Não há duas formas do Rito Romano

Trata-se, reflete o cardeal Cupich, "de restabelecer em toda a Igreja de Rito Romano uma única e idêntica oração que exprima sua unidade, de acordo com os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Papas" e em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II. Em outras palavras, não existem duas formas do Rito Romano, porque a palavra "reforma" significa deixar "uma forma anterior de celebrar os sacramentos" e adotar uma nova. Foi o que aconteceu, afirmou ainda o cardeal, com outros documentos reformadores como o Código de Direito Canônico de 1917 e o Catecismo da Igreja Católica de 1993, à luz dos quais ‘ninguém’, observa Cupich, "pensaria em afirmar que as formas anteriores ainda possam ser usadas, simplesmente porque a palavra reforma significa algo". Por isso, também em relação à reforma litúrgica deve significar algo".

Unidade, continuidade, papel do bispo

Segundo o Cardeal, a partir deste ponto de partida há três importantes princípios orientadores para receber e aplicar o motu proprio.

A primeiro é a unidade da Igreja. Há algum tempo, lembra o cardeal Cupich, o arcebispo Dom Augustine Di Noia, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, disse em uma entrevista que a esperança de João Paulo e Bento ao ampliar a possibilidade de usar a Missa Pré-Vaticano II era promover a unidade na Igreja e combater os abusos que se haviam espalhado na celebração da Missa Pós-Vaticano II. Uma aspiração que em seu coração era um desejo de curar a divisão com os membros da Sociedade de São Pio X, fundada por Monsenhor Lefebvre. Por outro lado, observa o cardeal Cupich, com o tempo, foi gerado um movimento na Igreja que impede as reformas do Concílio Vaticano II através da rejeição da mais importante, a reforma do Rito Romano.

O segundo princípio orientador que o Papa aborda no motu proprio é precisamente o "sólido e inequívoco reconhecimento" pelos católicos de que o Concílio Vaticano II e suas reformas estão em continuidade com a tradição da Igreja, além de serem uma "autêntica ação do Espírito Santo". Assim, os livros litúrgicos promulgados pelos Papas Santos são "a única expressão da lex orandi do Rito Romano".

Por fim, o papel do bispo, princípio orientador do documento papal, que restitui ao prelado o papel de "moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica em sua diocese" com a "competência para regulamentar o uso como uma concessão excepcional da antiga liturgia". Aqui também a ênfase do Papa - observa Cupich - vai no sentido de promover uma forma unitária de celebração.

Um acompanhamento direcionado

Ao explicar como implementar pastoralmente os objetivos do motu proprio, o cardeal Cupich se concentra principalmente no acompanhamento por parte dos pastores, com o objetivo de que "compreendam a ligação entre a forma como praticamos o culto e aquilo que acreditamos, tendo em mente o desejo do Papa de que os pastores conduzam os fiéis ao uso exclusivo dos livros litúrgicos reformados". Em seguida explica: "Isso deve também ajudar as pessoas a apreciar o quanto a Missa reformada as leve a um maior uso das Escrituras e das orações da tradição romana, e também pode significar incluir criativamente na Missa reformada pelo Concílio, elementos da forma precedente como por exemplo, gestos, uso do canto gregoriano e períodos de silêncio na liturgia”.

Creio - conclui o cardeal Cupich - que podemos usar esta oportunidade para ajudar todo o nosso povo a compreender melhor o grande dom que o Concílio nos deu ao reformar o nosso modo de adorar. Daí o renovado compromisso pessoal de promover um retorno a uma forma unitária de celebração, de acordo com as diretrizes do motu proprio e o convite coletivo a todos para "rezar, como Jesus fez na noite anterior à sua morte, para que todos sejam um".

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

 O 'ouro líquido' escondido nas florestas da Espanha

Durante séculos, as pessoas exploraram os pinheiros para extrair resina. Em uma região espanhola, alguns acreditam que essa prática milenar poderia salvar cidades rurais e ao mesmo tempo ajudar o planeta.


Resina de pinho obtida em Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos, na Espanha. — Foto: SUSANA GIRÓN

Nas províncias espanholas de Segóvia, Ávila e Valladolid existe um tesouro escondido. Ali, no meio da Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos, uma densa floresta de 400 mil hectares de pinheiros se estende em direção às montanhas.

Protegida do forte sol espanhol e repleta de trilhas, essa floresta é um destino popular para moradores e turistas. E quem a visita na hora certa consegue ver operários ao longo dos troncos das árvores, cumprindo a tradição secular de recolher o "ouro líquido" do pinheiro.

Um mercado no auge

A resina de pinho foi usada por diferentes civilizações por milhares de anos. Na Espanha e em grande parte do Mediterrâneo, ela era usada para impermeabilizar navios, tratar queimaduras e acender tochas, entre outras coisas.

Mas, de acordo com Alejandro Chozas, professor do departamento de engenharia florestal da Universidade Politécnica de Madrid, foi somente nos séculos 19 e 20 que a extração de resina de pinheiro se tornou lucrativa naquela região espanhola.

Quando a tecnologia e a industrialização ajudaram a transformar essa seiva espessa em plásticos, vernizes, colas, pneus, borracha e até aditivos alimentares em meados do século 19, os proprietários das densas florestas de pinheiro de Castilla y León enxergaram uma oportunidade.

Trabalhadores começaram a cortar a casca dos pinheiros resinosos em toda a região para coletar a valiosa seiva. E embora este lento processo tenha parado em grande parte do mundo, na última década ele vem tendo um renascimento em Castilla y León, o lugar com mais fabricantes de resinas em toda a Europa e um dos últimos no continente onde esta prática persiste.

Nos séculos 19 e 20 a extração de resina de pinheiro se tornou lucrativa na região de Tierra de Pinares e da Sierra de Gredos — Foto: SUSANA GIRÓN

Da 'morte' à 'vida'

Mariano Gómez nasceu em Ávila e trabalhou durante 32 anos na extração de resina de pinheiro.
"Meu pai era produtor de resina e eu aprendi com ele. No começo ele usava machados de lenhador, mas minhas mãos doíam muito. Hoje as ferramentas são mais bem projetadas para cada tarefa, (mas ainda assim) são manuais", explica.
O processo de extração permaneceu praticamente inalterado desde o início desta atividade, mas os fabricantes de resina de hoje criaram ferramentas mais eficientes e ergonômicas, bem como produtos químicos que estimulam a secreção de resina.

A seiva espessa e leitosa da resina é usada para fazer plásticos, vernizes, colas, pneus, borracha e até mesmo aditivos alimentares — Foto: SUSANA GIRÓN

Como resultado, os rendimentos e a produtividade aumentaram muito. O que também mudou foi que, no passado, a extração da resina era feita até que as árvores morressem, usando métodos muito agressivos.
Mas, há algum tempo houve uma mudança "para a vida", com uma prática em que o número de incisões na casca é minimizado, reduzindo os danos à árvore.

'Sangrando' as árvores

Nos meses mais quentes de março a novembro, os produtores locais extraem cuidadosamente a resina dos pinheiros, removendo primeiro a camada externa da casca da árvore.

Eles pregam um suporte e colocam um recipiente de coleta. Os puxadores então usam seus machados para fazer incisões diagonais na casca, fazendo com que as árvores "sangrem" e fazendo com que sua resina vaze para o balde. Quando estão cheios, despejam a seiva em recipientes de 200 kg.
Trabalhadores pregam um suporte e colocam um recipiente de coleta da resina dos pinhos. — Foto: SUSANA GIRÓN
Os produtores enviam a substância para fábricas de destilação, que extraem a terebintina da resina de aparência viscosa e amarelada que solidifica quando resfriada, virando brilhantes pedras âmbar.

Orgulho local

Durante o boom da extração da resina do pinheiro na Espanha em 1961, quando 55.267 toneladas foram extraídas, mais de 90% vieram das florestas de Castilla y León. A falta de demanda e a queda brusca dos preços levaram a produção a cair e quase desaparecer na década de 1990. Muitos pensaram que esse seria o fim dessa tradição espanhola.

Em Castilla y León, a resina não é apenas um sustento econômico para as comunidades rurais, mas uma atividade que é passada de geração em geração. Muitas famílias têm pelo menos uma pessoa que "sangrou" árvores ou participou de sua destilação.

Grande parte da atividade econômica e social dessas cidades sempre foi marcada pela indústria da resina e as comunidades mantêm esse legado como parte importante de sua cultura.

Uma alternativa ecológica ao petróleo?
De acordo com vários estudos, no ritmo atual de extração, as reservas de petróleo da Terra deverão se esgotar por volta de 2050.

Blanca Rodríguez-Chaves, vice-reitora da Faculdade de Direito da Universidade Autônoma de Madrid e especialista em políticas ambientais, acredita que a resina pode ser uma alternativa. Ela argumenta que a maioria dos produtos derivados do petróleo, como o plástico, por exemplo, que não é biodegradável, também pode serem feitos de resina e se decompor com mais facilidade.

"A resina é o óleo do mundo de hoje e do futuro. A ideia é que todos os usos do óleo sejam substituídos pela resina", disse.
"Já se fabricam plásticos a partir da resina. (Se utiliza) na indústria cosmética e farmacêutica além de suas aplicações na construção ou na fabricação de vernizes e colas. A floresta é a grande fornecedora de recursos renováveis ​​e energia que permite para substituir os derivados de petróleo. A resina tem o papel principal ", garantiu.
Alguns especialistas espanhóis dizem que a resina de pinheiro pode ser uma alternativa viável ao óleo — Foto: SUSANA GIRÓN

Retorno rural

Os defensores da resina de pinheiro também acreditam que ela pode oferecer uma solução para o êxodo rural da Espanha.

De acordo com um relatório do Banco da Espanha, 42% das localidades do país são afetadas pelo êxodo, porque cada vez mais jovens estão deixando o campo em busca de melhores oportunidades de trabalho nas cidades.

Este fenômeno é pior em Castilla y León, onde 80% dos municípios de 14 províncias são consideradas "em perigo de extinção". No entanto, devido ao novo interesse pela resina de pinheiro, alguns jovens começaram a regressar.

Guillermo Arranz é um deles. Ele vive e trabalha em Cuéllar (Segóvia) e faz parte da quarta geração de trabalhadores em resina da família.

"O pinhal é o meu escritório e a possibilidade de continuar a trabalhar no local onde nasci. O que mais gosto no meu trabalho é a liberdade de não ter patrão e, claro, o contato direto com a natureza e com a minha gente, "ele disse.
Vicente Rodríguez trabalha como produtor de resina em sua cidade natal, Casavieja, e é um dos cerca de 30 produtores de resina em Ávila.

"Somos poucos. As pessoas ainda se surpreendem quando nos veem com resina nos pinheiros. Acham que somos coisa do passado. Mas não entendem que o futuro dessas áreas (está ligado) à resina", disse.

Isabel Jiménez é uma das poucas mulheres que extrai resina de pinheiro da região. Dada a dureza do trabalho, tradicionalmente o trabalho das mulheres se limitava a tarefas de apoio.

"Ainda me lembro quando comecei a trabalhar com resina, os homens faziam piadas e apostavam em quantas semanas isso duraria. E aqui estou eu três anos depois. Sou uma mulher fisicamente forte. Além de ser um estilo de vida para mim e uma fonte de renda, este é o meu reino. Meu pequeno pedaço de terra na Terra."
Quando Isabel Jiménez começou a trabalhar com resina há três anos, os homens pensaram que isso duraria apenas algumas semanas — Foto: SUSANA GIRÓN

Autonomia no trabalho e turismo

Aproximadamente 95% da extração de resina de pinheiro na Espanha é realizada em Castilla y León. Arranz e Rodríguez acreditam que a melhor forma de preservar essas florestas antigas é dar maior controle aos próprios extratores.

"O futuro é permitir que os produtores de resina administrem (seu) próprio território. Se o governo nos desse ajuda em troca da limpeza ou monitoramento das montanhas, trabalharíamos o ano todo e haveria muito mais trabalhadores de resina dispostos a trabalhar no montanhas", disse Rodriguez.

Ao atrair mais jovens para morar e trabalhar nessas cidades rurais, Rodríguez acredita que a região poderá ter um aumento do ecoturismo. Para ajudar a tornar isso uma realidade, a área rica em resina do Vale do Tiétar (Ávila) foi recentemente indicada para se tornar uma Reserva da Biosfera protegida pela Unesco.

Existem também vários museus onde os visitantes podem ver as tradicionais cabanas onde dormiam os primeiros trabalhadores e apreciar ferramentas antigas, e várias empresas oferecem visitas guiadas à "Rota da Resina".

Nos fins de semana, essas exuberantes florestas podem ser preenchidas com o som dos passos dos turistas que vêm para fugir da agitação das cidades próximas.

Mas se você prestar atenção, poderá ouvir a gota do "ouro líquido" espanhol caindo nos baldes pendurados nos troncos das árvores.

Fonte: Por BBC - 08/11/2021 12h38  Atualizado há 3 horas






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