sábado, 28 de março de 2020

Epidemias já fizeram 3 bilhões de vítimas no mundo


Do ponto de vista histórico, o coronavírus ainda é um mal menor. Por causa das rotas comerciais, doenças assolaram principalmente a Europa
Por Carla Aranha - access_time Publicado Exame em 17 mar 2020, 19h39 

Voluntários verificam a temperatura de quem passa nas ruas de Gênova, Itália, segundo país com o maior número de infectados pelo coronavírus (Nazionale Anpas/Divulgação)

Pode parecer até exagero, mas nos últimos 1.500 anos mais de 3 bilhões de pessoas no mundo morreram em decorrência de doenças provocadas por novos vírus e bactérias. Do ponto de vista histórico, portanto, o número de vítimas fatais do coronavírus é ainda pequeno: quase 8.000 mortos no mundo.
Por volta do ano 540, muita gente pensou que o mundo ia acabar. Marinheiros de navios mercantes do Mar Negro, entre a Europa e a Turquia, começaram a morrer repentinamente. Em geral, os navios atracavam em portos da Itália.
A doença ficou conhecida como praga de Justiniano, nome do imperador romano da época. As embarcações chegavam com ratos infectados por pulgas que carregavam uma bactéria mortal para os seres humanos.
Os infectados apresentavam inchaço nos nódulos linfáticos, no pescoço, virilha e axilas, além de necrose nas mãos e nos pés. O vírus acabava matando o doente em poucos dias. A doença chegou ao norte da África e ao Oriente Médio. Também se alastrou pela Europa. Mais de 30 milhões de pessoas morreram.
“As primeiras epidemias foram causadas por bactérias endêmicas em roedores, como acontece até hoje”, diz Dave Wagner, professor de ciências biológicas na Northen Arizona University e autor de estudos sobre as primeiras bactérias que dizimaram populações.
“A diferença é que hoje existem os antibióticos.” A penicilina, descoberta em 1928, marcou um passo importante no combate às infecções bacteriológicas. “Como os vírus geralmente têm uma grande capacidade de mutação, são eles que mais nos afetam atualmente”, afirma.
A falta de boas condições sanitárias e remédios fizeram com que milhões de pessoas não resistissem às infecções. A pior delas foi a peste negra, que surgiu em 1346. “A pandemia começou quando os chineses atacaram embarcações mercantes italianas no litoral da Crimeia para interromper o fluxo do comércio europeu”, diz o historiador Ole Benedictow, professor emérito de história na Universidade de Oslo, na Noruega e autor do livro A Peste Negra, 1346-1353: a História Completa.
“Os navios voltaram para a Itália, de onde a doença se espalhou para a toda a Europa, o norte da África e o Oriente Médio, em boa parte devido ao comércio entre essas regiões”, afirma.
A doença foi provocada por uma nova cepa da bactéria que causou a praga de Justiniano. Com mais gente morando nas cidades, muitas vezes em locais insalubres, o número de mortos ultrapassou a casa dos 65 milhões.
A peste provocava gangrena nas extremidades do corpo, que ficavam negras. Mas não era só isso. Os doentes tinham febre alta, complicações pulmonares e fortes dores. Para se proteger, muita gente começou a usar máscaras de metal, equivalentes às atuais máscaras de papel. Ervas eram usadas para purificar as casas e espantar as pulgas que transmitiam a doença.
No século 16, os historiadores desistiram de catalogar o surgimento de novas doenças, tal a quantidade delas. A boa notícia é que as pragas não eram tão virulentas. Ocorreram surtos de febre amarela, tifo, sarampo, hepatite e lepstospirose principalmente na Europa. Cerca de 3 milhões de pessoas morreram.
gripe espanhola, provocada por um vírus, assombrou o mundo em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial. Mais de 75 milhões de pessoas morreram, globalmente, em razão da primeira versão do H1N1.
A boa notícia é que com a invenção da penicilina e a evolução da ciência, foi ficando mais fácil criar novos tratamentos e vacinas. Claro, isso não vale para todas as doenças, ainda mais para aquelas que surgem da mutação de vírus, como Codiv-19.
Na década de 1990, a descoberta de um coquetel antiviral para o HIV ajudou a salvar milhares de vidas. Agora, a nova missão da ciência é desenvolver uma vacina para o novo coronavírus — até lá, o melhor mesmo é seguir as recomendações da comunidade médica e se proteger.



sábado, 21 de março de 2020

Queda no número de leitos e pico de internações por doenças respiratórias em abril e maio são desafios diante de coronavírus em SP

Dados do DataSus mostram queda de 5% no número de leitos básicos em 10 anos. Pico de doenças respiratórias coincide com auge do Covid-19, e pode faltar respirador em SP, dizem médicos. Governo de SP diz que vai reservar mil novos leitos de UTI.
Por Iuri Barcelos, Patrícia Figueiredo e Beatriz Borges, TV Globo e G1 SP — São Paulo - 21/03/2020 06h00  Atualizado há 4 horas

Leito isolado do Hospital das Clínicas de São Paulo pode receber pacientes graves do coronavírus — Foto: Reprodução/TV Globo
O estado de São Paulo pode sofrer com a falta de leitos hospitalares e respiradores para pacientes graves com coronavírus, segundo especialistas ouvidos pelo G1. O pico de internações por doenças respiratórias coincide com o auge previsto para o Covid-19, segundo dados do DataSus, o sistema de informações do Sistema Único de Saúde (SUS). O sistema mostra ainda que o número de leitos hospitalares na rede pública e privada disponíveis no estado de São Paulo caiu nos últimos quatro anos.
Estado de SP prevê pico de casos de coronavírus entre abril e maio
Prefeitura de SP promete aumentar número de leitos de UTI após coronavírus
A queda, de 2,5%, é relativa à quantidade total de leitos ativos (incluindo leitos básicos de internação e também os de UTI) nos sistemas de saúde público e particular. Em 2015, o sistema teve em média 109,5 mil leitos disponíveis. Em 2019, foram 106,8 mil.
O declínio é mais acentuado quando analisados apenas os leitos básicos: em 2009, São Paulo teve em média 96,6 mil leitos deste tipo. Em 2019, a média caiu 5,5% para 91,4 mil unidades ativas.
"Vai haver falta de leitos, na minha opinião, porque nós estamos tendo em um espaço muito curto de tempo um aumento muito grande da demanda", explica o médico sanitarista e professor da USP, Gonzalo Vecina.
O governo de São Paulo afirma que vai "reservar reserva de mil novos leitos de UTI para o atendimento a casos do Covid-19" (veja abaixo a íntegra da nota da Secretaria Estadual de São Paulo).
"Se a demanda fosse um pouco mais espalhada, talvez a gente conseguisse absorver, mas a demanda está sendo muito concentrada no tempo, isso vai gerar um stress na rede existente", acredita Vecino.
Para Francisco Balestrin, presidente do Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde, a queda no número de leitos em São Paulo faz parte de uma tendência de menor procura por leitos de internação no país.
"Esse processo todo de diminuição de leitos ele vem seguindo uma tendência nos últimos 5 anos no nosso país, porque no fundo, no fundo, você está diminuindo a necessidade de leitos porque as pessoas no fundo estão se tratando mais, estão fazendo tratamentos ambulatoriais, estão fazendo tratamentos mais em casa", avalia Balestrin.
"No coronavírus, ocorre exatamente o contrário, como as pessoas usam durante muito tempo o leito de terapia intensiva, você precisa criar mais leitos, vai contra a tendência dos últimos anos", completa.
Pico de doenças respiratórias
Além da queda no número de leitos, os dados compilados pelo G1 e TV Globo mostram ainda que o pico de internações por doenças respiratórias acontece nos meses de abril e maio. Essas doenças são a quarta principal causa de internações no sistema de saúde do estado de São Paulo. O governo de São Paulo estima que o pico de casos de coronavírus no estado deve ocorrer entre meados de abril e maio.
Dados do Datasus mostram que, no período de 2009 a 2019, o mês de maio teve, em média, 24.483 internações por doenças respiratórias em São Paulo, enquanto o mês de abril teve média de 25.185 internações do tipo no estado. São os meses com mais internações do tipo no ano.
Para os médicos, o fato de o surto de coronavírus acontecer na mesma época em que os sistemas já estão sobrecarregados com internações de doenças respiratórias poderá ocasionar uma maior demanda por equipamentos especializado.
"A gente vai ter uma sobreposição da epidemia [de coronavírus] com a maior incidência de doenças respiratórias. É uma sobrecarga a mais no sistema", explica o pneumologista Rogério de Souza.
"O suporte ventilatório que você dá para alguém que tem insuficiência respiratória pelo coronavírus, os equipamentos que você usa para os suportes ventilatórios são os mesmos usados para internações respiratórias", lembra de Souza.
O sanitarista Gonzalo Vecino, da USP, concorda que os equipamentos necessários serão disputados devido à sobreposição de coronavírus e internações por outras doenças respiratórias.
"Quando o cara precisa ser entubado, fazer respiração artificial, entrar na máquina para entubar, o equipamento é o mesmo, tanto faz se é gripe ou coronavírus. Essa pneumonia do coronavírus é uma pneumonia que usualmente está sendo tratada com respiração artificial, então, é um complicador a concomitância dos picos", afirma Vecino.
Taxa de ocupação de UTIs
Outro desafio apontado por especialistas no combate ao coronavírus em São Paulo é a alta taxa de ocupação dos leitos de UTI do estado. Em entrevista coletiva, o secretário estadual da Saúde estimou em 85% a taxa média de ocupação dos chamados leitos complementares no estado. Já o coordenador do centro de contingência contra o coronavírus, David Uip, disse que a média é cerca de 90%.
Uip afirma que, além da criação de novas UTIs, será necessário aprimorar a gestão desses leitos.
"Tem que tirar os entraves para que todos os procedimentos aconteçam rapidamente. Às vezes o indivíduo não tem alta por conta de falta de implante de marca-passo. Aqueles doentes crônicos de UTI nós temos que ter um respaldo de encaminhamento. Estamos discutindo os moradores de UTI, como fazer para resolver isso, sempre preservando a saúde o bem-estar de todos os envolvidos", disse Uip.
Para Vecino, sanitarista e professor da USP, a redução no total de leitos no estado nos últimos dez anos é mais grave sob a óptica das mudanças nas taxas de permanência e de ocupação.
"Se a média de permanência cai e a taxa de ocupação sobe você pode ter menos leitos porque você vai aumentar o giro", explica Vecino.
Uip reconhece que, além da necessidade de novos leitos de UTI, será necessário investir em mais equipamentos de respiração mecânica para equipar leitos comuns e transformá-los em UTIs respiratórias:
"Eu entendo que nós vamos ter uma dificuldade em relação aos respiradores. Hoje há uma concorrência muito forte no mundo inteiro na compra de respiradores. O ministro afirmou que está negociando com outros países, aqueles que já passaram por isso, para talvez ter alguma forma de trazer esses respiradores para o Brasil", disse Uip em entrevista coletiva nesta quinta-feira (19).
Entretanto, para Francisco Beldrino, apesar da grande importância da falta de equipamentos, a falta de pessoal pode ser o maior gargalo no tratamento do novo coronavírus em São Paulo.
"Cama você compra, equipamento de modo geral você consegue montar, medicamento de alguma forma chega, mas pessoas treinadas, pessoas que estão acostumadas a lidar com esse tipo de paciente, eu acho que isso vai ser um dos maiores desafios", afirma Balestrin.
Veja a nota da Secretaria Estadual da Saúde:
O Governador João Doria anunciou nesta quinta-feira (12) a ampliação das medidas de enfrentamento ao novo coronavírus em todas as regiões do estado de São Paulo. A principal delas é a reserva de mil novos leitos de UTI para o atendimento a casos do covid-19. Doria disse que não há razão para pânico e reforçou a importância da campanha de comunicação e prevenção para evitar o alastramento da doença.
"É o que denominamos de rede de enfrentamento contra o vírus. São novas medidas de prevenção e medidas incrementais, como mais leitos, medicamentos, equipamentos e profissionais de saúde. Mais mil leitos de UTI serão disponibilizados no estado de São Paulo. Outra recomendação é aumentar os cuidados especiais com as pessoas de 60 anos", afirmou Doria. "Neste momento, no dia 12 de março, não há nenhuma razão para pânico ou medidas extremadas no estado de São Paulo em razão do coronavírus", acrescentou.
Doria concedeu entrevista ao lado do Prefeito de São Paulo, Bruno Covas, o Secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann Ferreira, e o Coordenador do Centro de Contigência do coronavírus em São Paulo, o médico infectologista David Uip.
No momento, a prioridade é garantir atendimento a pessoas mais suscetíveis ao quadro grave do coronavírus, que são pessoas com idade a partir de 60 anos, portadores de doenças crônicas graves e imunodeprimidos, como pacientes que passam por quimioterapia. A meta é que os serviços de saúde das redes pública e privada estejam preparados para atender e orientar todos os pacientes com rapidez, segurança e qualidade.
"Não é uma decisão de ordem política, o instinto de um governador ou uma medida de ordem administrativa. É de ordem sanitária e de saúde pública. Com o devido cuidado para não levar pânico para a população e nem antecipar processos [de isolar toda a população], porque os efeitos são extremamente nocivos para a vida das pessoas e a economia de uma região ou país. Temos que tratar disso com bom senso, equilíbrio e avaliações diárias", disse Doria. "Não é razoável paralisar, de maneira precipitada, um estado com quase 46 milhões de habitantes", completou o Governador.
O Coordenador do Centro de Contingência do coronavírus corroborou a decisão do Governo do Estado e reforçou a recomendação de cuidados diários para evitar o alastramento do coronavírus.
Na terça (17), o Centro de Contingência vai reunir diretores regionais de Saúde e de 100 hospitais da rede estadual para indicar os protocolos clínicos de atendimento a casos suspeitos ou confirmados. A meta é uniformizar os serviços e definir critérios para internação de pacientes com coronavírus nos leitos de UTI, inclusive na rede privada.

quinta-feira, 12 de março de 2020

As grandes epidemias que já surgiram na China

ISTO É - TECNOLOGIA & MEIO AMBIENTE - AFP - 22/01/20 - 13h32 - Atualizado em 23/01/20 - 00h56

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Várias epidemias virais importantes surgiram na China nas últimas décadas, como o novo coronavírus, que apareceu em dezembro na cidade de Wuhan (centro).

– 2003: SARS –

O vírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) surge no final de 2002 no sul da China depois de ser transmitido por morcego, seu “reservatório natural”, para o homem pelo civet asiático de palma, um mamífero selvagem que é vendido nos mercados do sul da China por causa de sua carne.

Esse “coronavírus” (vírus em forma de coroa) é terrivelmente contagioso e causa pneumonias agudas, às vezes fatais.

Desde 2003, causou uma verdadeira psicose na Ásia, principalmente na China, Hong Kong e Singapura.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em 12 de março um alerta de saúde internacional.

A epidemia deixou 774 mortos, de um total de 8.096 pessoas afetadas em cerca de trinta países.

China e Hong Kong concentraram 80% das vítimas.

– 1997: gripe aviária A (H5N1) –

A gripe aviária A (H5N1) matou pela primeira vez em Hong Kong em 1997, e fez seis vítimas fatais. Em seguida, reapareceu em 2003 no sudeste da Ásia, com um total de 282 mortes em 468 casos em 15 países (balanço da OMS para 2003-2009).

Mas esse vírus afeta aves, principalmente aves domésticas, e as infecções em seres humanos se devem ao contato direto com esses animais.

Portanto, não é possível falar de uma epidemia humana de gripe aviária, uma vez que a transmissão entre seres humanos foi mínima.

O medo é uma evolução do vírus para uma forma facilmente transmissível de homem para o homem.

– 1968: gripe de Hong Kong –

Um novo vírus da gripe tipo A (um dos três tipos de gripe sazonal) se espalha desde julho de 1968 em Hong Kong, onde infecta meio milhão de pessoas, ou seja, 15% da população, antes de se espalhar para a Ásia e depois para os Estados Unidos e Europa.

Essa pandemia causou uma forte mobilização internacional, coordenada pela OMS.

O saldo dessa pandemia é estimado em um milhão de mortes (número citado pela agência dos Estados Unidos para vigilância e prevenção de doenças, CDC).

– 1957: gripe asiática –

Os primeiros casos dessa gripe, também do tipo A, foram detectados em fevereiro de 1957 na província chinesa de Guizhou (sudoeste).


O vírus então se espalha por toda a China e por toda a Ásia e depois em todo o mundo, causando a pandemia mais importante desde a gripe espanhola de 1918, com um total estimado de 1,1 milhão de mortos (segundo CDC).

 HOMÍLIA DOMINICAL  24 DE DEZEMBRO DE 2023. 4º DOMINGO DO ADVENTO LEITURA DO DIA Primeira leitura -  Leitura do Segundo Livro de Samuel 7,1-...