segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 O excepcional alinhamento de Júpiter e Saturno, que não acontece de tal modo desde a Idade Média

Alinhamento dos planetas ocorre a cada duas décadas, mas não de modo tão próximo como o previsto em dezembro

Entre 16 e 21 de dezembro, uma grande parte dos habitantes da Terra poderá observar um fenômeno que não ocorria pelo menos desde 1623 - ou, segundo alguns astrônomos, desde o século 13: o que é conhecido como a "grande conjunção" de Júpiter e Saturno.

Durante esses dias, e especialmente às noites, os dois planetas estarão alinhados de tal maneira que parecerá que formam um planeta "duplo".

"Depois de meses de aproximação lenta, em 21 de dezembro, que coincide com o solstício de inverno, Júpiter e Saturno se reunirão em uma espetacular grande conjunção", diz à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) Hernando Guarín, professor de Astronomia da Universidade del Valle, na Colômbia, e diretor da Rede Colombiana de Astronomia.

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Para Guarín, a noite de 21 de dezembro será um "presente de Natal" antecipado para os fãs de astronomia.

Fenômeno será visível em áreas com o céu limpo, principalmente perto da linha do Equador

Segundo Guarín, esse alinhamento e a possibilidade de vê-lo desde a Terra são excepcionais por conta do próprio movimento dos três planetas.

"A Terra leva um ano para dar volta no Sol; Júpiter leva 12 anos e Saturno, 30 anos", explica. "Isso torna difícil que o fenômeno aconteça com regularidade."

Embora o alinhamento ocorra aproximadamente a cada duas décadas, o fenômeno deste ano tem características específicas que são inéditas há muitas centenas de anos.

"Esta conjunção será excepcionalmente rara devido a quão próximos os planetas estarão entre si", explica Patrick Hartigan, astrônomo da Universidade de Rice (EUA).

Uma conjunção com os planetas próximos entre si ocorreu em 16 de julho de 1623, mas Hartigan acha que o que vai acontecer em dezembro só tem paralelo com um fenômeno ainda mais antigo.

"Seria preciso retroceder até antes do amanhecer de 4 de março de 1226 para ver um alinhamento mais próximo entre esses planetas (de modo) visível no céu noturno", diz.

Passado 21 de dezembro, "aqueles que preferirem esperar e ver Júpiter e Saturno tão perto e mais acima no céu noturno terão que aguardar até 15 de março de 2080. Depois disso, a dupla não fará aparição semelhante até depois de 2400", diz ele.

Para Guarín, há outro ponto a ser levado em conta.
Conjunção dos planetas depende da rotação deles ao redor do Sol

"Podemos ver como os planetas estão se aproximando entre si. Ou seja, é um espetáculo que podemos seguir desde agora até 21 de dezembro, quando infelizmente eles voltarão a se separar".

A relevância é desde o ponto de vista científico, mas também "para as pessoas que queiram voltar a olhar para o céu", opina Guarín.

A luminosidade de ambos os planetas no mês de dezembro tornará ainda mais simples essa observação: segundo o pesquisador, será possível ver o fenômeno a olho nu, principalmente de pontos próximos à linha do Equador, embora a visão através de um telescópio ou observatório seja muito melhor.

Mas para conseguir avistar a conjunção "é essencial ter um bom horizonte, totalmente limpo, sem nuvens, montanhas ou edifícios".

Ao mesmo tempo, Peter Lawrence, assessor editorial da revista Sky at Night, da BBC, aponta que é é preciso ter cuidado ao observar tais fenômenos com binóculos.

"Binóculos podem separar os planetas devido ao efeito ótico, por isso é melhor usar um telescópio", afirma o astrônomo. "Com um telescópio você não verá apenas um disco duplo (dos planetas alinhados), como também poderá apreciar os anéis de Saturno e os cinturões de Júpiter."


Black Friday: de onde vem esse nome e outras 9 curiosidades sobre a data

Nos Estados Unidos, evento acontece tradicionalmente depois do feriado de Ação de Graças; Brasil e outros países aderiram à moda

Um dos dias mais aguardados no ano por lojistas e consumidores, a Black Friday teve origem nos Estados Unidos e hoje é adotada em vários países do mundo, como o Brasil.

Em 2019, o evento movimentou R$ 6 bilhões, uma alta de 36% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da empresa Compre&Confie. Com a pandemia de coronavírus em 2020, os comerciantes esperam bater um novo recorde, já que o comércio online está aquecido porque as pessoas estão saindo menos de casa para comprar por temor da covid-19.

Nos EUA, o evento acontece tradicionalmente depois do feriado de Ação de Graças, com filas a perder de vista. Todos os consumidores têm um único objetivo: garimpar produtos com descontos que podem chegar a até 90% do preço original.

Mas quando surgiu a Black Friday? Por que o evento ganhou esse nome? Confira dez curiosidades envolvendo um dos dias mais famosos do varejo.

1) O termo Black Friday se referia a crises na Bolsa

Embora esteja hoje associado ao maior dia de compras dos Estados Unidos, o termo Black Friday (literalmente "Sexta-Feira Negra" em inglês) se referia originalmente a eventos muito diferentes.

"O adjetivo negro foi usado durante muitos séculos para retratar diversos tipos de calamidades", afirma o linguista Benjamin Zimmer, editor-executivo do site Vocabulary.com.

Nos EUA, a primeira vez que o termo foi usado foi no dia 24 de setembro de 1869, quando dois especuladores, Jay Gould e James Fisk, tentaram tomar o mercado do ouro na Bolsa de Nova York.

Quando o governo foi obrigado a intervir para corrigir a distorção, elevando a oferta da matéria-prima ao mercado, os preços caíram e muitos investidores perderam grandes fortunas.

2) Os desfiles de Papai Noel antecederam a Black Friday

Para muitos americanos, o desfile do Dia de Ação de Graças, promovido pela loja de departamentos Macy's, tornou-se parte do ritual do feriado.

Mas o evento, na verdade, foi inspirado nos vizinhos do norte. A loja de departamentos canadense Eaton's realizou o primeiro desfile do Papai Noel em 2 de dezembro de 1905. Quando o Papai Noel aparecia ao final do desfile, era um sinal de que a temporada de festas havia começado - e, por sua vez, a corrida às compras. É claro que os consumidores eram incentivados a fazer compras na Eaton's.

Lojas de departamento, como a Macy's, inspiraram-se no desfile e passaram a patrocinar eventos semelhantes ao redor dos Estados Unidos.

Loja de departamentos Macy's se inspirou na canadense Eaton's e passou a patrocinar desfiles e eventos natalinos para incentivar as compras

Em 1924, por exemplo, Nova York viu pela primeira vez um desfile da Macy's com animais do zoológico do Central Park, totalmente organizado por funcionários da própria loja.

3) A data do Dia de Ação de Graças foi determinada pelas vendas

De meados do século 19 ao início do século 20, em um costume iniciado por Abraham Lincoln, o presidente dos EUA declararia o "Dia de Ação de Graças" na última quinta-feira de novembro. O dia poderia, assim, cair na quarta ou quinta quinta-feira do mês.

Em 1939, porém, algo aconteceu - a última quinta-feira foi coincidentemente o último dia de novembro.

Preocupados com o curto período de compras para as festividades de fim de ano, lojistas enviaram então uma petição a Franklin Roosevelt (1882-1945) para declarar o início das festas uma semana mais cedo, o que foi autorizado pelo então presidente.

Pelos próximos três anos, o Dia de Ação de Graças foi apelidado de "Franksgiving" (uma mistura de Franklin com "Thanksgiving", como a data festiva é chamada em inglês) e celebrado em dias diferentes e em diferentes partes do país.

Dia costuma ser marcado por filas e confusão em lojas ao redor do mundo

No final de 1941, uma resolução conjunta do Congresso finalmente solucionou o problema. Dali em diante, o Dia de Ação de Graças seria comemorado na quarta quinta-feira de novembro, garantindo uma semana extra de compras até o Natal.

4) A síndrome da sexta-feira após o Dia de Ação de Graças

Segundo Bonnie Taylor-Blake, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte, a Factory Management and Maintenance - uma newsletter do mercado de trabalho - reivindica a autoria do uso do termo Black Friday.

Em 1951, uma circular da empresa chamou atenção para a incidência de profissionais doentes naquele dia.

"A síndrome da sexta-feira após o Dia de Ação de Graças é uma doença cujos efeitos adversos só são superados pelos da peste bubônica. Pelo menos é assim que se sentem aqueles que têm de trabalhar quando chega a Black Friday. A loja ou estabelecimento pode ficar meio vazio e todo ausente estava doente", dizia a circular.

5) Black ou Big Friday?

Esse termo ganhou popularidade pela primeira vez na Filadélfia - policiais frustrados pelo trânsito causado pelos consumidores naquele dia começaram a se referir dessa forma à Black Friday.

Data se tornou o dia em que mais se gasta em todo o ano

Os lojistas evidentemente não gostaram de ser associados ao tráfego e à poluição. Eles, então, decidiram repaginar o termo para "Big Friday" ("A Grande Sexta", em tradução literal), segundo um jornal local de 1961.

6) Com o tempo, Black Friday passou a significar 'voltar ao azul'

Os lojistas conseguiram dar uma interpretação positiva ao termo ao dizer que ele se referia ao momento em que os estabelecimentos retornavam ao azul, ou seja, voltavam a ter lucro. Mas não há provas de que isso tenha realmente acontecido.

É verdade, por outro lado, que o período de festas corresponde à maior parte dos gastos de consumo do ano.

Mas quanto dessas receitas realmente se torna lucro não está claro, dado que os lojistas costumam trabalham com margens mais apertadas, oferecendo grandes descontos.

7) A Black Friday não se tornou referência nacional até a década de 1990

O termo Black Friday permaneceu restrito à Filadélfia por um tempo surpreendentemente longo.

"Você podia vê-lo sendo usado de maneira moderada em Trenton, Nova Jersey, mas não ultrapassou as fronteiras da Filadélfia até os anos 80", disse Zimmer.

"O termo só se espalhou a partir de meados dos anos 90."

8) Ela só se tornou o maior dia de compras do ano em 2001

Embora a Black Friday seja considerada o maior dia de compras do ano, a data não ganhou esse título até os anos 2000.

Isso porque, por muitos anos, a regra não era que os americanos adoravam uma liquidação, mas sim que adoravam procrastinar. Ou seja, até tal ponto, era no sábado - e não na sexta-feira - que as carteiras ficavam mais vazias.

Consolidação - e exportação - da Black Friday se deu neste milênio

9) Data gerou 'inveja' e ganhou o mundo

Por muito tempo, os lojistas canadenses morriam de inveja de seus colegas americanos, especialmente quando seus clientes fiéis colocavam o pé na estrada rumo ao sul em busca de boas compras.

Mas agora eles passaram a oferecer as suas próprias liquidações - apesar de o Dia de Ação de Graças no Canadá acontecer um mês antes.

No México, a Black Friday ganhou novo nome - 'El Buen Fin', ou "Bom fim de semana". A comemoração é associada ao aniversário da revolução de 1910 no país, que às vezes cai na mesma data que o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.

Como o próprio nome sugere, o evento dura o fim de semana inteiro.

No Brasil, onde o feriado de Ação de Graças não existe, a data passou a ser incluída no calendário comercial do país quando lojistas perceberam o potencial de vendas do dia.

10) A Black Friday corre risco de extinção?

O Walmart, o maior varejista do mundo, quebrou a tradição do Black Friday em 2011, quando abriu sua loja a clientes na noite do feriado de Ação de Graças.

Desde então, lojistas por todos os Estados Unidos estão de olhos nos cerca de 33 milhões de americanos ávidos por fazer compras após se deliciar com generosas fatias de peru.

Mas não se preocupe - os lojistas também já inventaram um nome para batizar o dia adicional de compras: "Quinta-feira Cinza".

Créditos:

Kim Gittleson - BBC News

domingo, 29 de novembro de 2020

O sábio que introduziu algarismos arábicos no Ocidente e nos salvou de multiplicar CXXIII por XI

 

Al-Khwarizmi nos deixou como legado a álgebra e a palavra algoritmo

Galileu, Newton, Einstein... são três grandes nomes da ciência ocidental.

Mas, como o próprio Newton escreveu, citando o filósofo do século 12 Bernardo de Chartres:

"Se eu vi mais longe, foi por estar sentado sobre os ombros de gigantes."

Vários desses gigantes nos quais cientistas ilustres se apoiaram e continuam a se apoiar, foram relativamente esquecidos... mas, se olharmos com atenção, podemos encontrá-los.

Como a Índia revolucionou a matemática séculos antes do Ocidente

Por que os gregos antigos acreditavam que a matemática era um presente dos deuses

Segundo historiadores, o principal legado do grande matemático italiano Leonardo Pisano, mais conhecido como Fibonacci, foi ajudar a Europa a abandonar o antigo sistema de algarismos romanos e adotar os numerais indo-arábicos.

Eles constam em seu Liber Abaci ("Livro de Cálculo"), que escreveu em 1202 após estudar com um professor árabe.

Na mesma obra, há uma referência a um texto anterior chamado Modum algebre et almuchabale, e na margem está escrito Maumeht, que é a versão em latim do nome Mohamed.

Assim como Fibonacci, estudiosos europeus dos séculos 12 a 17 se referem com frequência a textos islâmicos e nomes árabes em manuscritos sobre diversos temas, da medicina à cartografia

No caso, a referência é especificamente para Abu Ja'far Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, conhecido como Al-Khuarismi, que viveu aproximadamente entre os anos 780 e 850.

Foi graças a ele que os intelectuais europeus souberam da existência dos numerais indo-arábicos.

Dos hindus ao Oriente Médio, de Bagdá à Europa

A obra de Al-Khuarismi aborda um aspecto crucial de toda nossa vida.

Por causa dela, o mundo europeu percebeu que sua maneira de fazer conta — ainda essencialmente baseada em algarismos romanos — era irremediavelmente ineficiente e atrapalhada.

Se eu pedir para você multiplicar 123 por 11, você consegue calcular até de cabeça. A resposta é 1.353.

Agora tente fazer isso com algarismos romanos: você tem que multiplicar CXXIII por XI. Pode ser feito, claro. Mas não é nem um pouco fácil.

Fazer conta com algarismos romanos não era nada simples

Em seu Livro de adição e subtração, de acordo com o cálculo hindu, Al-Khuarismi descreveu uma ideia revolucionária: a possibilidade de representar qualquer número com apenas 10 símbolos simples.

Essa ideia de usar apenas dez símbolos — os dígitos de 1 a 9, além do símbolo 0 — para representar todos os números de um ao infinito, foi desenvolvida por matemáticos hindus por volta do século 6, e sua importância é inestimável.

E assim os algarismos foram evoluindo, da direita para a esquerda

Ponto decimal

Al-Khuarismi e seus colegas fizeram mais do que traduzir o sistema hindu para o árabe: eles criaram o ponto decimal.

Sabemos disso graças à obra do matemático Abu'l Hasan Ahmad ibn Ibrahim Al-Uqlidisi.

O livro Kitab al-fusul fi al-hisab al-Hindi, dos anos 952-3 — o manuscrito mais antigo em que é proposto um tratamento de frações decimais, escrito apenas um século depois de Al-Khwarizmi — mostra que o mesmo sistema decimal pode ser ampliado para descrever não apenas números inteiros, mas também frações.

A ideia do ponto decimal é tão familiar para nós que é difícil entender como vivíamos antes dele — parece incrivelmente óbvio depois de ser descoberto.

O zero e o ponto decimal nos levaram ao infinito. Um ótimo exemplo é a constante de Euler, um dos números mais importantes da matemática

Quem foi Al-Khwarizmi?

Al-Khwarizmi, o grande matemático que deu ao Ocidente os números e o sistema decimal, também era astrônomo — e levou seu conhecimento para a corte do califa al-Mam'un, em Bagdá.

Ele era um emigrante da Pérsia oriental e um homem do seu tempo, a Idade de Ouro Islâmica.

Sua forma de pensar era ousada, e ele gozava de um grande luxo: vivia rodeado por livros.

Al-Khwarizmi é um dos grandes ícones do Império Islâmico

Graças ao Movimento das Traduções, que reuniu trabalhos científicos de todo o mundo conhecido até então, no fim do século 9, um importante corpus matemático grego — que incluía obras de Euclides, Arquimedes, Apolônio de Perga, Ptolomeu e Diofanto — foi traduzido para o árabe.

Da mesma forma, a matemática babilônica e hindu antigas, assim como as contribuições mais recentes de sábios judeus, estavam disponíveis para estudiosos islâmicos.

Al-Khwarizmi estava na posição privilegiada de ter acesso a diferentes tradições matemáticas.

A grega abordava principalmente a geometria, ciência de formas como triângulos, círculos e polígonos, que ensina a calcular área e volume.

A hindu havia inventado o sistema decimal de dez símbolos que tornava as contas muito mais simples.

Ao combinar a intuição geométrica com a precisão aritmética, imagens gregas e símbolos hindus, ele inspirou uma nova forma de pensamento matemático que hoje chamamos de álgebra.

Al-Khwarizmi é considerado o pai da álgebra

Al-Jabr

No livro Al-Jabr w'al-Muqabala, de autoria de Al-Khuarismi, é a primeira vez que a palavra Al-Jabr ("álgebra") aparece.

Ele começa dizendo: "Descobri que as pessoas necessitam de três tipos de números: unidades, raízes e quadrados."

E mostra a seguir como resolver equações usando métodos algébricos.

Equações quadráticas (ou de segundo grau) já eram resolvidas nos tempos da Babilônia. A diferença é que não havia fórmulas, e cada problema era resolvido individualmente:

"Pegue a metade de 10, que é 5, e o quadrado, que é 25"; e mais tarde, outro diria: "Pegue a metade de 12, que é 6, e o quadrado, que é 36."

E assim sucessivamente, eles passavam pelo mesmo processo repetidas vezes com números diferentes, conforme o caso.

As fórmulas são libertadoras porque permitem resolver os mesmos tipos de problemas sem ter que começar do zero toda vez

Para Al-Khuarismi,, a solução não estava nos números que precisávamos descobrir, mas em um processo que pudéssemos aplicar.

Ou seja: o quadrado significa fazer a raiz quadrada e multiplicá-la por ela mesma. E essa fórmula é verdadeira qualquer que seja a raiz quadrada. Se for 5, é 5 vezes 5, que é 25; se for 3, é 3 vezes 3...

Não usar números, mas símbolos, acabou sendo uma ideia incrivelmente libertadora, permitindo que você resolva problemas sem se prender a cálculos numéricos bagunçados.

'Algoritmi de numero Indorum'

Ao abandonar temporariamente a relação com números específicos, você manipula os novos elementos (x, y, z) de acordo com as regras que explica em seu livro: uma série de fórmulas.

Os números que os símbolos representam em seu problema específico aparecerão milagrosamente no final.

Pense em algo simples e cotidiano, era o que Al-Khuarismi queria ajudar a resolver:

Ahmed morre e deixa 80 moedas de herança. Para um amigo, ele destina um quarto delas; para sua viúva, um oitavo; o resto é para seus três filhos. Cada fração corresponde a quanto?

Al-Khwarizmi fez com que a incógnita fosse parte da equação: o que chamamos de X em álgebra.


O tratado escrito por Al-Khuarismi por volta de 825 sobre o sistema numérico indo-arábico foi traduzido no século 12 com o nome Algoritmi de numero Indorum, que significa "Algoritmi sobre os números hindu"; "Algoritmi" foi a tradução para o latim do nome Al-Khuarismi.

Na obra, ele nos apresenta a essas fórmulas que, devido à tradução do seu nome, acabaram sendo chamadas de algoritmos.

Al-Khwarizmi permitiu que a álgebra existisse como uma área da matemática por mérito próprio, e se tornasse um fio condutor para quase todas as outras. A álgebra nada mais é do que uma série geral de princípios e, se você os compreender, a entenderá.

Qual é a verdadeira importância da álgebra?

Ela foi usada ao longo do tempo para resolver todos os tipos de problemas.

Se a massa de uma bala de canhão for 'm' e a distância que tem que percorrer, 'd', você usa a álgebra para calcular o ângulo ideal para apontar o canhão.

É o tipo de conhecimento que vence guerras.

Ou podemos chamar a velocidade da luz de 'c', a mudança na massa de um núcleo atômico de 'm', e assim calcular a energia liberada com esta simples fórmula:

A famosa equação de de Einstein determina a equivalência entre massa e energia

Esse tipo de conhecimento é poderoso. Os números arábicos e a álgebra foram uma contribuição inestimátivel para a ciência ocidental, que permitiu desde a ida do homem à lua ao desenvolvimento do dispositivo com o qual você está lendo esta reportagem.

Créditos:

Jim Al-Khalili, físico - Da série da BBC "Ciência e Islã"

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