Cinco vão a júri popular 10
anos após morte de Celso Daniel
10 de maio de 2012 • 06h05 –
TERRA – Noticias
HERMANO FREITAS
Direto de São Paulo
Dez anos depois do crime, serão julgados a partir desta
quinta-feira, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, cinco réus acusados
de envolvimento no assassinato do então prefeito de Santo André, Celso Daniel
(PT). O assassinato teria sido motivado pela descoberta de enriquecimento
ilícito por pivôs de um esquema de corrupção que operava na administração
municipal da cidade para financiar as campanhas políticas do Partido dos
Trabalhadores, inclusive do então candidato à Presidência da República Luiz
Inácio Lula da Silva. O promotor responsável pela acusação é Márcio Augusto
Friggi de Carvalho, e o juiz presidente do júri popular é Antonio Augusto Galvão
de França Hristov.
Sentarão no banco dos réus, cada um com seu advogado, Itamar
Messias dos Santos Filho, Ivan Rodrigues da Silva, Rodolfo Rodrigo dos Santos
Oliveira, José Edison da Silva e Elcyd Oliveira Brito, todos já presos, sendo
que os dois últimos por outros crimes. O único condenado pela morte de Celso
Danial até agora foi Marcos Roberto Bispo dos Santos, sentenciado em novembro
de 2010 a 18 anos de prisão. Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, responde em
liberdade, beneficiado por um habeas corpus. Ele entrou com recurso no Tribunal
de Justiça de São Paulo para não ser acusado de participação no crime, mas teve
a sentença de pronúncia confirmada pelos desembargadores. O juiz aguarda apenas
o retorno do processo do Tribunal de Justiça para marcar a data de seu
julgamento.
Sombra era amigo de Celso Daniel e foi formalmente acusado
pelo MP por homicídio qualificado. O empresário teria encomendado a morte de
Celso Daniel após descobrir o plano do prefeito de acabar com as fraudes em
licitações e outros desvios de verba. Sombra jantou em uma churrascaria com o
prefeito antes do sequestro seguido de morte. Os requintes de crueldade na ação
incluiriam a tortura do prefeito, depois de o refém se recusar a dizer onde
estavam os documentos que incriminariam os integrantes do esquema de corrupção.
"Que ele foi torturado antes de morrer é de uma clareza solar", disse
o promotor.
Nesta quarta-feira, Friggi disse que a acusação baseará sua
tese na versão de crime político. Segundo as investigações, Celso Daniel
ofereceu resistência ao descobrir que o esquema de corrupção servia ao
enriquecimento dos envolvidos, sendo morto em janeiro de 2002. "Ele
conhecia esse esquema e, enquanto achou que servia apenas ao financiamento de
campanha do Partido dos Trabalhadores, tolerava. Mas, quando soube que também
enriquecia pessoalmente o grupo, passou a investigar", disse o promotor.
No julgamento desta quinta-feira, a acusação deve apresentar
provas técnicas, como o cruzamento de ligações entre os acusados e a confissão
de um dos réus, Elcyd Brito, o John, que confirmou a motivação política do
crime. Os envolvidos teriam sido contratados para "arquivar" o
prefeito, no jargão dos criminosos. No curso das investigações, sete pessoas
ligadas aos fatos apareceram mortas em circunstâncias misteriosas, inclusive um
médico legista que examinou o corpo da vítima. Esse fator seria um inibidor
para as testemunhas. Nenhuma foi arrolada pela acusação, mas 13 foram chamadas
pela defesa. Ao menos R$ 100 milhões teriam sido desviados da administração
municipal para financiar o partido, de acordo com outro processo de improbidade
administrativa que corre na Justiça.
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