sábado, 9 de junho de 2012

Dilemas recentes de política econômica

Autor: Giuliano Contento de Oliveira
Depois de duas décadas perdidas, a partir de 2004 a economia brasileira voltou a crescer a taxas mais elevadas – com exceção de 2009, por conta da crise global. Não se pode negar que o ambiente de farta liquidez internacional e de redução do patamar médio da taxa de juros propiciou margem de manobra para a realização de políticas voltadas à ampliação da demanda interna. O aumento do salário real e do emprego e a ampliação dos programas de transferência de renda concorreram para dinamizar a demanda doméstica e incentivar os investimentos privados.
Mais recentemente, contudo, a estratégia de crescimento baseada no mercado interno tem passado por sérios constrangimentos, impondo relevantes dilemas de política econômica. Em vista da defasagem temporal entre a realização dos investimentos e a ampliação da capacidade produtiva, a inflação tem sofrido pressões de alta, movimento que ensejou o início de um novo ciclo de aumento da taxa básica de juros.
Nesse contexto, o debate econômico recente tem girado em torno das medidas necessárias para conter as pressões inflacionárias. Para os mais ortodoxos, as iniciativas implementadas pelo governo para conter a valorização cambial são equivocadas, pois evitam contrapesar as pressões sobre a inflação decorrentes do aumento dos preços das commodities. Desconsideram, porém, que a valorização excessiva da taxa de câmbio, além de potenciar o desajuste das contas externas, afeta adversamente muitos setores da economia, sobretudo os mais intensivos em tecnologia.
Outros economistas têm recomendado um substancial aumento do superávit fiscal primário para arrefecer o crescimento da demanda interna e, por extensão, o aumento da taxa básica de juros requerido para viabilizar o cumprimento da meta para a inflação em 2011. Não obstante, essa medida pode implicar uma importante retração do investimento público e, assim, recolocar as pressões sobre a inflação mais adiante, ante as dificuldades de redução substancial das despesas correntes no curto prazo.
Diante da impossibilidade de escolhas plenamente ótimas, uma alternativa para lidar com os constrangimentos impostos pela conjuntura recente, sem comprometer a capacidade de crescimento futuro da economia brasileira, seria um esforço fiscal adicional e ajustar a margem da taxa básica de juros, além de trabalhar com o teto da meta de inflação em 2011 e flexibilizar o arcabouço do regime de metas. 
Se, de um lado, uma inflação maior tende a reduzir a participação dos salários na renda nacional no curto prazo, de outro, o menor aperto monetário e fiscal requerido afetaria menos adversamente o investimento público e as decisões privadas de inversão, mantendo as condições para a continuidade do crescimento sustentado do emprego e da renda. Finalmente, o novo ciclo de alta da taxa de juros, num contexto de abundância de dólares no mundo, pode exigir a imposição de medidas governamentais adicionais para evitar a sobrevalorização cambial.
Giuliano Contento de Oliveira
Professor Doutor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp)

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