Ex-funcionários da gestão Kassab são presos após investigação de Haddad
30/10/2013 - 08h24
– FOLHA – COTIDIANO – Monica Bergamo – Colunista da Folha
Quatro ex-chefes de arrecadação da Prefeitura de São Paulo foram
presos hoje acusados de um desvio milionário que pode chegar a pelo menos R$
500 milhões. O Ministério Público comprovou um rombo de R$ 200 milhões ao longo
de três anos. Mas a prefeitura estima que a fraude chegue a R$ 500 milhões pelo
tempo em que o grupo atuou no esquema desvendado.
A operação, realizada hoje de manhã e apelidada de
"Necator" (um tipo de parasita) pela prefeitura, tem potencial
explosivo: iniciada pela administração de Fernando Haddad (PT-SP), ela atinge
em cheio a cúpula das finanças da gestão de seu antecessor, Gilberto Kassab
(PSD-SP). Ele é aliado de Dilma Rousseff no governo federal.
Um dos acusados das supostas falcatruas é o ex-subsecretário da
Receita Municipal Ronilson Bezerra Rodrigues. Outro é Eduardo Barcelos, diretor
de arrecadação do mesmo órgão. Eles eram da equipe do secretário Mauro Ricardo,
de Finanças. Os outros presos são Carlos Augusto Di Lallo Leite do Amaral,
ex-diretor da divisão de cadastro de imóveis e o agente de fiscalização Luis
Alexandre Cardoso de Magalhães.
De acordo com a prefeitura, eles foram exonerados dos cargos de
confiança entre dezembro de 2012 e fevereiro deste ano, mas estavam trabalhando
atualmente na prefeitura. Todos vão responder por processo disciplinar.
Os funcionários são acusados de integrar uma quadrilha que recebia
propina de grandes construtoras para fornecer a elas certidões de quitação de
ISS (Imposto Sobre Serviço) sem que pagassem tudo o que era devido.
O documento precisa ser emitido para que as construções obtenham o
habite-se da prefeitura.
O grupo se reunia em um escritório a 300 metros da sede da
prefeitura, no centro, apelidado de "ninho".
Kassab diz que nenhum dos investigados foi indicado ao cargo por
ele "São técnicos, funcionários de carreira." (Veja o texto abaixo)
MEDIDAS
A CGM (Controladoria Geral do Município) vai instaurar processo
disciplinar para apurar as responsabilidades dos servidores envolvidos. Também
vai determinar a instituição de uma força-tarefa para a adoção de medidas para
o ressarcimento aos cofres municipais.
Os servidores também deverão responder pelos crimes de
concussão/corrupção passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha e
lavagem de dinheiro.
PATRIMÔNIO
De acordo com a investigação, os quatro servidores teriam
amealhado um patrimônio que, somado, chegaria a R$ 100 milhões. Ele seria
formado por centenas de imóveis em várias cidades do país, além de carros de
luxo e contas bancárias no exterior. Alguns são proprietários também de
lotéricas.
Entre os bens adquiridos estão apartamentos de luxo, flats,
prédios e lajes comerciais, em São Paulo e Santos, barcos e automóveis de luxo,
uma pousada em Visconde de Mauá (RJ) e um apartamento duplex em Juiz de Fora
(MG).
Na operação desta quarta-feira foram apreendidos com os quatro
investigados motos e carros importados, grande quantidade de dinheiro (reais,
dólares e euros), documentos, computadores e pen-drives.
Os bens localizados estão em nomes de familiares e de empresas nas
quais os acusados figuram como sócios.
O Ministério Público deve enquadrá-los nos crimes de formação de
quadrilha, corrupção passiva ou concussão, lavagem de dinheiro e advocacia
administrativa.
Divulgação/Ministério Público de SP | |
Pousada em Visconde de Mauá (RJ) de propriedade de um dos agentes fiscais presos durante megaoperação |
INVESTIGAÇÃO
A investigação começou em março, quando a CGM (Controladoria Geral
do Município), criada por Haddad, passou a monitorar a evolução patrimonial de
140 mil funcionários públicos.
Cruzamentos feitos em diversas bases de dados, como a de registro
de imóveis de SP e de outras cidades, detectaram servidores com patrimônio
incompatível com os seus vencimentos.
A CGM passou então a acompanhar de perto a situação daqueles que
ocupavam cargos considerados sensíveis, como os de fiscalização.
Foi então que identificou o grupo da Secretaria de Finanças,
liderado, sempre de acordo com as investigações, pelo subsecretário da Receita
Municipal de São Paulo.
A CGM passou então a compartilhar os dados com o Ministério
Público, que solicitou à Justiça a quebra dos sigilos bancário, fiscal e
telefônico dos envolvidos.
Além de grampo em telefones fixos e celulares, foi realizada
também escuta ambiental no escritório apelidado de "ninho".
Há casos em que os depósitos realizados por construtoras na conta
de um dos acusados chegaram a alcançar R$ 1,8 milhão em apenas um mês.
Em uma ocasião, uma construtora fez depósito de R$ 480 mil e
conseguiu a certidão de ISS depois de pagar apenas R$ 12 mil.
A prefeitura calcula que a propina chegava em alguns casos a 50%
do imposto que as empresas deveriam pagar.
A administração e o MP já solicitaram o bloqueio de bens dos
funcionários. As empresas privadas envolvidas serão investigadas e intimadas a
pagar o que deixaram de recolher aos cofres públicos municipais.
30/10/2013 - 09h23
– FOLHA – COTIDIANO – Mônica Bergamo – Colunista - Folha
"São
técnicos, nenhum indicado por mim", diz Kassab
ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP) afirmou na manhã desta
quarta-feira que os acusados de patrocinar um rombo estimado em até R$ 500
milhões na Prefeitura de São Paulo, em sua gestão, são "técnicos,
servidores de carreira que não foram indicados por mim".
A megaoperação prendeu Ronilson Bezerra Rodrigues,
ex-subsecretário da Receita Municipal, Eduardo Barcelos, o ex-diretor do
Departamento de Arrecadação e Cobrança, o ex-diretor da divisão de cadastro de
imóveis e um agente de fiscalização. Os nomes dos outros dois presos ainda não
foram divulgados. Todos foram exonerados entre dezembro do ano passado e
fevereiro deste ano.
Kassab afirma que os secretários de Finanças tinham total
autonomia para montar suas equipes. "E tenho certeza que os
ex-secretários, que são pessoas corretas, terão total disposição para colaborar
com as investigações".
A pasta foi comandada por quatro secretários durante a sua
administração.
Kassab diz que também está à disposição para qualquer
esclarecimento.
INFLUÊNCIA
Durante a gestão Kassab, a Secretaria de Finanças se manteve na
esfera de influência de seu antecessor, o ex-prefeito José Serra. A ele era
creditada a nomeação de Mauro Ricardo para o comando da pasta.
Ricardo ocupou cargo equivalente na gestão de Serra no governo de
São Paulo, quando foi nomeado para a Secretaria da Fazenda, onde ficou até
2010. Com a saída de Serra do governo, Ricardo voltou para a Secretaria de
Finanças de Kassab.
ESQUEMA DE PROPINA
De acordo com o Ministério Público, a CGM (Controladoria Geral do
Município), criada pelo prefeito Fernando Haddad (PT), notou que os quatro
auditores fiscais, ligados à Subsecretaria da Receita da prefeitura, tinham
evolução patrimonial incompatível com a sua remuneração.
A investigação descobriu que os suspeitos tinham um esquema de
corrupção envolvendo os valores do ISS (Imposto Sobre Serviços) cobrado de
empreendedores imobiliários.
O imposto --calculado sobre o custo total da obra-- é necessário
para que o empreendedor tenha o "Habite-se". O grupo emitia guia com
valores pequenos e exigiam dos empreendedores depósitos em altas quantias em
suas contas bancárias. Se o valor não fosse pago, os certificados de quitação
do ISS não eram emitidos e, consequentemente, o empreendimento não era liberado
para ser ocupado.
Em um dos casos, segundo o Ministério Público, foi constato que
uma empresa recolheu R$ 17.900 de ISS e, no dia seguinte, depositou R$ 630 mil
na conta da empresa de um dos auditores. O valor da propina corresponde a 35
vezes o montante que entrou nos cofres públicos.
Os acusados construíram um patrimônio de R$ 20 milhões com o
dinheiro obtido das propinas, que inclui uma pousada no Rio de Janeiro e um
apartamento duplex em Minas Gerais.
Todos são investigados pelos crimes de corrupção, concussão,
lavagem de dinheiro, advogacia administrativa e formação de quadrilha.
Na operação desta quarta-feira foram apreendidos com os quatro
investigados motos e carros importados, grande quantidade de dinheiro (reais,
dólares e euros), documentos, computadores e pen-drives.
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