Caso Amarido é uma vergonha para o Rio de Janeiro
'Sabia que a verdade iria aparecer', desabafa mulher
de Amarildo, no Rio
02/10/2013 10h28 - Atualizado em 02/10/2013
10h39 – G1
Esposa e filhos de Amarildo (Foto: Cristiane Cardoso/G1) |
Após o indiciamento de
10 policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora
(UPP) da Rocinha, incluindo o major Edson Santos, ex-comandante da UPP da
Rocinha, pelo desaparecimento de Amarildo de Souza, a mulher do ajudante de
pedreiro Elisabete Gomes relatou em entrevista exclusiva ao G1que
sabia que a verdade iria aparecer.
"Eu poderia ter
me calado, mas não fiz isso. Gritei para o mundo querendo uma resposta. Todos
os amigos, familiares e moradores da nossa comunidade tinham fé que tudo iria
ser resolvido. Eu sabia que a verdade iria aparecer. Estou me sentindo aliviada.
Enfim, a Justiça começou a ser feita", desabafou Elisabete na manhã desta
quarta-feira (2).
Ela acrescentou ainda
que tem certeza que os policiais agiram por "pura maldade". "Meu
marido morava há 43 anos na comunidade e nunca teve problema com ninguém.
Sempre se relacionou bem com todas as pessoas, nunca passou um dia fora de casa
e não tinha inimigos. Quando ele sumiu, eu sabia que tinha sido pura maldade
dos policiais", completou.
Os PMs foram
indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. A
informação foi dada com exclusividade pelo Jornal Nacional. O
promotor Homero Freitas, que está a frente do caso, informou que deve oferecer
a denúncia à Justiça nos próximos dias.
Os policiais negam
envolvimento no sumiço e dizem que liberaram Amarildo, no dia14 de julho,
depois de constatar que não havia qualquer mandado de prisão contra ele.
Entenda o caso
Amarildo sumiu após ser levado à sede da UPP da Rocinha, onde passou por uma
averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com
Amarildo no dia 14 de julho, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do
Rio antes de voltarem à sede da Unidade de Polícia Pacificadora, onde as
câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os
policiais, teria deixado o local sozinho.
Na sexta-feira (27), uma ossada achada em Resende, no Sul Fluminense, passou
por uma necropsia, motivada pelas suspeitas de que poderia ser de Amarildo. O
relatório, porém, foi considerado inconclusivo, e a ossada será
novamente analisada no Rio de Janeiro. O resultado deve sair
entre 10 e 15 dias.
Testemunhas deixam o
Rio
Duas testemunhas-chave do caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro
deixaram o Rio de Janeiro na
noite do dia 20. A mãe e o filho adolescente que contaram em depoimento à
Divisão de Homicídios que foram coagidos por policiais para dar falsas
declarações sobre o caso pediram ingresso no Programa de Proteção à Criança e
ao Adolescente Ameaçado de Morte, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos. O
programa confirmou o pedido feito pelas testemunhas.
Os dois deixaram o Rio
de avião, acompanhados por agentes da Polícia Federal. De acordo com a
Secretaria de Direitos Humanos, devido à complexidade do caso, ficou acertado
que seria mais adequado tirar as testemunhas da cidade.
O ingresso no programa
ainda vai ser avaliado por técnicos da secretaria. Eles vão fazer a análise dos
riscos que as testemunhas estão correndo e decidir se eles têm direito ou não à
acolhida. O resultado dessas análises deve ficar pronto num prazo de uma semana
a dez dias.
A Divisão de
Homicídios, que investiga o caso, prefere não se pronunciar sobre a saída do
Rio das testemunhas-chave do caso, e se concentrar nas investigações.
Reconstituição
O delegado Rivaldo Barbosa, acompanhado por peritos, fez a reconstituição do
caso em duas etapas.
A primeira etapa, no
início de setembro, reproduziu as ações desde a primeira abordagem dos
policiais da UPP ao ajudante de pedreiro. A reconstituição durou mais de 16 horas,
entre a noite de domingo (1º) e a manhã de segunda-feira (2), e foi considerada
uma das maiores reconstituições já feitas pela Polícia Civil, segundo informou
a assessoria da corporação.
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