Hoje inicia o julgamento da mulher que mandou matar o marido, um executivo da Friboi
24/09/2013 06h14 - Atualizado em 24/09/2013 07h54 - Globo - SP
Antes de julgamento
da mãe, filho de executivo da Friboi protestou em NY
Júri
de Giselma Campos começa nesta terça-feira (24) em São Paulo.
'Tenho rezado bastante e pedido discernimento', afirmou estudante ao G1.
Do G1 São Paulo
Carlos Eduardo protesta por demora no julgamento(Foto: Juliana Santana de Souza/Acervo pessoal) |
Filho
do empresário Humberto de Campos Magalhães, executivo da Friboi morto a tiros
em dezembro de 2008, o estudante de administração Carlos Eduardo Magalhães
aproveitou uma viagem de estudos a Nova York, nos Estados Unidos, em agosto
deste ano, para fazer uma homenagem ao pai e um protesto contra a demora no
julgamento do caso. O júri da mãe dele, Giselma Carmen Campos, acusada de
mandar matar o ex-marido, começa nesta terça-feira (24) no Fórum da Barra
Funda, em São Paulo.
Carlos
Eduardo disse ao G1 nesta segunda-feira (23) que tem rezado
bastante e pedido discernimento para enfrentar o início do julgamento em que
será a principal testemunha de acusação contra sua mãe. "Tenho rezado
bastante e pedido discernimento neste momento. Estou acreditando que estou
fazendo o melhor para o meu pai. Então, isso me ajuda muito", disse.
Durante
o protesto, o estudante apareceu sem camisa na Times Square e em frente ao
Central Park com o corpo pintado com palavras como "justiça" e
"paz espiritual".
A
ideia surgiu após ele ver protestos de pessoas nuas pintadas apenas com tinta
corporal, mas sem nenhum propósito. Ele afirma que se convenceu após uma
conversa com o artista Danny Seatiawan. As fotos foram feitas por Juliana
Santana de Souza, uma amiga brasileira que ele conheceu em Nova York.
"Quando eu estava andando por lá, eu vi que ele fazia essas pinturas nas
pessoas, mas sem nenhum propósito aparente. Era mais uma coisa de choque de
valores. Foi aí que tive a ideia. Falei: 'acho que posso fazer uma coisa nesse
sentido para, de certa forma, colocar para fora o que estou sentido e também
fazer uma homenagem para o meu pai. Mostrar para mim mesmo que ainda estou aqui
e que ainda estou lutando por ele. Que tudo que ele fez por mim, de alguma
forma, estou podendo hoje honrar'", contou.
Carlos
Eduardo disse que o protesto foi bem recebido. "Muitas pessoas pessoas
ficavam chocadas de saber como as coisas funcionam aqui. Teve bastante gente
que achou super legal e teve gente que só passou e não deu opinião a respeito.
De forma geral, foi muito bom porque as pessoas se aproximavam de mim para
conversar sobre qualquer coisa", afirmou.
Na
frente do corpo de Carlos Eduardo, o artista escreveu, em um braço,
"justica", e, no outro, "paz espiritual". Nas costas de
Carlos Eduardo, o artista escreveu: "pelo que você luta?". A resposta
estava escrita nos braços: "justiça" e "paz espiritual".
Segundo Carlos, que também é professor de inglês, as pessoas escreviam à caneta
em suas costas os objetivos de suas lutas.
Morte do executivo
Humberto de Campos Magalhães foi morto a tiros por um motoqueiro em uma rua da
Zona Oeste da capital paulista em 4 dezembro de 2008. Carlos Eduardo e a mãe
deverão ficar frente a frente na sala no Tribunal do Júri no Fórum Criminal da
Barra Funda, na Zona Oeste. Ele tem certeza de que ela é culpada: "Foi ela
que mandou matar meu pai", disse ele ao Fantástico. Além de Giselma,
também deverá ser julgado o irmão dela, Kairon Valfer Alves.
Tenho
rezado bastante e pedido discernimento neste momento. Estou acreditando que
estou fazendo o melhor para o meu pai" Carlos Eduardo Magalhães
Giselma
viveu durante 20 anos com o executivo. Segundo a polícia, depois da separação,
ela passou a planejar o assassinato do ex-marido. O celular do filho mais velho
do executivo foi usado no crime. A acusação diz que Giselma entregou o telefone
a um pistoleiro. O assassino ligou para o executivo, dizendo que o filho dele
estava passando mal, no meio da rua. Humberto foi até o local e bateu de
casa em casa, à procura de notícias do filho. Quando entrou no carro, um
motoqueiro se aproximou e depois de uma rápida discussão disparou dois tiros,
um dos quais atingiu o executivo.
O celular usado para atrair a vítima ajudou a esclarecer o crime. O aparelho
foi encontrado na casa de Kairon, irmão de Giselma, no Maranhão. Segundo a
polícia, Kairo contratou dois pistoleiros na Cracolândia, região central de São
Paulo. A investigação mostrou que Giselma pagou ao irmão e aos assassinos R$ 30
mil para que o ex-marido fosse assassinado.
Humberto
Magalhães, de 43 anos, era de origem humilde. Começou como açougueiro e virou o
maior executivo da empresa. O empresário se casou com Giselma e teve dois
filhos: Carlos Eduardo era o mais novo. As brigas constantes do casal levaram
ao fim um relacionamento de 20 anos, mas, segundo o filho, Giselma nunca
aceitou a separação. “Sempre foi uma relação muito dificil entre os dois, de
discussões dentro de casa, gritaria de virar a madrugada discutindo”, diz
Carlos Eduardo.
Frases escritas nas costas de filho de empresário(Foto: Juliana Santana de Souza/ Acervo pessoal) |
Humberto
saiu de casa no fim de 2007 e namorou outras mulheres. “Primeiramente a polícia
imaginou se tratar de um latrocínio, mas no porta-malas do carro tinha uma
valise com cheque, dinheiro e cartões”, disse o promotor do júri, José Carlos
Cosenzo. Logo nos primeiros dias da investigação, Giselma começou a apresentar
um comportamento suspeito, de acordo com a Promotoria.
Cosenzo
afirma que quando saiu o mandado de busca e apreensão para apreender os
computadores e telefones, a empresária recebeu a polícia, mas tentou jogar um
chip de telefone na privada. “De repente ela disse: ‘estou com vontade de ir no
banheiro’. Abaixou, tirou o chip do celular e jogou na privada”, conta o
promotor.
A investigadora conseguiu puxar o chip de dentro da bacia da privada. A partir
dele, os investigadores rastrearam uma rede de ligações telefônicas. E
identificaram a quadrilha responsável pela morte de Humberto Magalhães.
Segundo
a Promotoria, Giselma contratou Kairon, que é ex-presidiário. Kairon contratou
Osmar que era uma pessoa que trabalhava como segurança. E Osmar contratou
Paulo, apontado como executor. No primeiro momento, Giselma negou
conhecer Kairon. Mas, ao comparar os documentos dos dois, a polícia teve uma
surpresa. “Foi verificado que eles eram irmãos. De pais diferentes, mas era a
mesma mãe”, disse o promotor.
“Acredito
que ela mandou assassinar o meu pai por interesse financeiro. Ela não queria
dividir o patrimônio que ela tinha com o meu pai com outra pessoa”, diz Carlos
Eduardo. Descoberta, Giselma tentou incriminar o próprio filho. “Ela, através
das ligações que fazia para pessoas, meio que tentava jogar culpa para mim.
Dizia que tinha medo porque eu talvez pudesse estar envolvido”, diz Carlos
Eduardo.
A polícia chegou a suspeitar do filho do empresário, mas o rastreamento do
aparelho celular dele levou à prisão de Kairon, que entregou todo o esquema.
Giselma
ficou presa preventivamente por um ano e seis meses na Penitenciária Feminina
de Santana, na Zona Norte de São Paulo. A decisão pela soltura de Giselma foi
do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Celso de Mello concedeu a liminar
no dia 27 de setembro, após analisar o pedido de habeas corpus impetrado pelo
advogado da ré, Ademar Gomes.
O Fantástico tentou falar com Giselma, mas ela não atendeu às ligações. Carlos
Eduardo tem pouco contato com a mãe. Se falam raramente e só para tratar da
venda de bens da familia. Os dois homens contratados para matar o empresário já
foram condenados: pegaram 20 anos de cadeia cada um. Carlos Eduardo espera que
Giselma seja condenada pela morte do pai dele. "Infelizmente foi ela que
mandou fazer isso. O que eu queria realmente era não ter uma mãe que fosse uma
assassina", afirmou.
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