Especialistas: pedágio urbano em SP é 'amargo', mas necessário
28 de abril de 2012 • 10h53 - Terra - Notícia
A medida, proposta
pelo vereador Carlos Apolinário (DEM), pretende tirar 30% dos veículos de
circulação e promover investimentos no transporte público
MAURICIO TONETTO
Para amenizar o
colapso no trânsito de São Paulo e incentivar o uso consciente de veículos, o
vereador Carlos Apolinário (DEM) propôs a criação de um pedágio urbano, com
taxa diária de R$ 4 para quem trafegar na região do Centro Expandido, onde hoje
ocorre o rodízio. A medida, aprovada na quinta-feira passada, pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, causou revolta na capital paulista e
rejeição do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD). Porém, os especialistas
consultados pelo Terra defendem a ideia e vão além, dizendo que sua efetivação é questão de
tempo e necessária, e que dirigir no centro de São Paulo é um "privilégio
que deve ser cobrado".
"Transporte
individual ao centro de uma metrópole como São Paulo é um privilégio que deve
ser cobrado. Estamos num dos piores momentos do transporte e o pedágio urbano
pode ajudar a fluidez e a lógica do tráfego", defendeu o doutor em
Planejamento e Operação de Transportes da Universidade de São Paulo (USP),
Telmo Giolito Porto. Ele salienta que, isoladamente, o pedágio urbano tem pouco
resultado.
"Ele deve ser
casado com uma série de outras medidas, como investimentos em metrôs, ônibus,
automoção de semáforos, engenharia de tráfego e rotas alternativas",
afirmou Porto. No microblog Twitter, os comentários sobre o assunto são, na
maior parte, de repulsa à medida, vista como uma arbitrariedade. Entre os
tuiteiros, está o comentarista esportivo Silvio Luiz: "estão querendo
cobrar pedágio para ir ao Centro Expandido. Quatro mangos. A cada dia eles
inventam uma pra meter a mão no nosso bolso", protestou.
O autor da proposta
entende as críticas e não acredita que o pedágio urbano possa funcionar em
2012, já que se trata de um ano eleitoral e a cobrança é "amarga" e
afasta votos. Mas Carlos Apolinário estima que a tarifa pode tirar de
circulação 30% dos veículos e arrecadar R$ 2 bilhões, para serem investidos no
transporte público. Ele diz que os paulistanos precisam "parar e
raciocinar".
"Nos últimos
40 anos, aumentou em 20% o número de ruas e 700% o de carros. Algo precisa ser
feito. A ideia é metrôs e ônibus em toda a cidade, só que como não há dinheiro,
vamos fazer o inverso: você cobra de quem tem carro, melhora a cidade e arruma
dinheiro para o transporte coletivo. A ideia não é simpática, mas as pessoas
precisam parar e raciocinar", disse o vereador.
Como poderá
funcionar
Pela proposta de
Apolinário, a taxa valeria apenas para os dias úteis e pode custar até R$ 88
por mês ao motorista. Táxis e coletivos não seriam cobrados. O vereador sugeriu
no mesmo projeto que o dinheiro arrecadado seja investido no transporte
público, possibilitando uma passagem de ônibus mais barata e outras opções de
locomoção.
A área abrangida é
o Centro Expandido, localizada ao redor do centro histórico, e delimitada pelo
chamado mini-anel viário, composto pelas marginais Tietê e Pinheiros, mais as avenidas
Salim Farah Maluf, Afonso d'Escragnolle Taunay, Bandeirantes, Juntas
Provisórias, Presidente Tancredo Neves, Luís Inácio de Anhaia Melo e o Complexo
Viário Maria Maluf.
O projeto não
explica claramente como seria a forma de cobrança, mas as cancelas estão
descartadas e a ideia é instalar um chip no veículo, semelhante ao sistema Sem
Parar, que libera as cancelas nas rodovias paulistas. Apolinário quer que a
prefeitura coloque o chip gratuitamente e que o veículo, ao ingressar na área,
seja identificado para cobrança. Ainda não foi definida se ela será por boleto
ou pré-pago. Antes de seguir para o plenário da Câmara de Vereadores, o texto
ainda precisa passar pelas comissões de Transportes e de Finanças e Orçamento.
Pedágio urbano pelo
mundo
Cingapura, na Ásia,
foi a primeira a adotar o pedágio urbano, em 1975, das das 7h30 às 19h30, de
segunda a sexta-feira. Reduziu o trânsito em 47% no período da manhã e 34% no
período da tarde. A procura pelo transporte público cresceu 63% e o uso do
automóvel diminuiu 22%.
De acordo com Apolinário, o modelo funciona também em metrópoles europeias, com
apoio da população. "Londres tem 8 milhões de habitantes, a medida foi
criada em 2003 e, após seis meses, o prefeito fez um plebiscito para saber se a
população gostaria que permanecesse o pedágio urbano. Foi aprovado, porque
houve uma redução de 25% no trânsito", destacou.
Na Suécia, a
capital Estocolmo adotou a tarifa com o nome de imposto de congestionamento.
Ele é cobrado a todos os veículos que circulam no centro da cidade e foi
implantado de forma permanente a partir de 1º de agosto de 2007, depois de um
período de teste de sete meses. Em Milão, na Itália, ele foi instituído com o
objetivo de reduzir a quantidade de carros trafegando diariamente. O custo é de
5 euros (cerca de R$ 11,5). Outras cidades que aderiram são Bergen, Oslo,
Trondheim e Stavanger (Noruega); Durhan (Grã-Bretanha); Znojmo (República
Tcheca); Riga (Letônia), e Valletta (Malta).
Caminho inevitável
Para o arquiteto
urbanista e consultor de mobilidade urbana Fernando Lindner, a cobrança de
pedágio urbano em São Paulo é "um caminho inevitável". "Fazendo
um comparativo com cidades europeias e americanas desenvolvidas, elas não
atingem o tamanho de São Paulo ou Rio de Janeiro. Aqui, há uma degeneração dos
serviços, e a mobilidade é o primeiro. Pedágio urbano é um remédio amargo, mas
muito necessário. Em 2020, se nada for feito, as grandes cidades brasileiras
entrarão em colapso", estimou.
OPINIAO: O transporte publico sobre rodas no município de
São Paulo é todo feito por permissionárias que são controladas pela SPTrans, e
que vem prestando um serviço precário a população paulistana, excesso de
acidentes graves nos últimos meses, etc...
Portanto quem tem que renovar as frotas são as próprias
empresas que obtiveram a Permissão para operar os trechos que foram divididos,
e cabe a cada uma o investimento.
O Metrô de São Paulo também teve uma de suas linhas privatizada e portanto
coube a vencedora da PPP fazer o investimento.
Não entendo o Vereador autor do projeto Carlos Apolinario (DEM)
querer transferir também esta responsabilidade ao povo paulistano com a
cobrança de mais um imposto e a grande novidade é imposto diário, quando essa
responsabilidade já tem os seus responsáveis que são as operadoras do serviço
de transporte.
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