Deputado usava verba pública para abastecer helicóptero apreendido com cocaína
28/11/2013 - 14h53 – FOLHA – PODER
PAULO PEIXOTO - DE BELO HORIZONTE
O deputado Gustavo Perrella (SDD) usou parte da verba indenizatória a que os
deputados estaduais têm direito mensalmente na Assembleia Legislativa de Minas
Gerais para abastecer o helicóptero da sua empresa, apreendido no domingo
passado (24) com 443 kg de cocaína.
Nas prestações de contas apresentadas pelo
deputado ao Legislativo Estadual, foram gastos neste ano ao menos R$ 11.253,44
com combustíveis para aeronaves. O mais recente registro de compra do
combustível é 1º de outubro.
A prestação de contas do mês de novembro ainda não está
disponível. Após o encerramento do mês, o deputado tem até três meses para
apresentar as notas fiscais cujos valores são reembolsáveis, segundo informou a
Assembleia, por meio da sua assessoria.
Até R$ 5.000 dos R$ 20 mil da verba mensal indenizatória podem ser
usados com combustível, sem distinção de transporte, seja carro, seja avião.
Segundo a Assembleia, além desse limite de 25% da verba, o combustível tem de
ser usado na atividade parlamentar. Na prática, contudo, o deputado não tem de
comprovar o motivo de uma determinada nota fiscal ter sido apresentada para
reembolso.
Divulgação/Polícia Federal no Espírito Santo | |
Polícia Federal apreende helicóptero com drogas de empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG) |
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que trabalha
para Gustavo Perrella e para o pai dele, o senador Zezé Perrella (PDT-MG),
disse que o uso da aeronave da Limeira Agropecuária pelo deputado ocorre
"uma, duas vezes por mês".
Ele disse ainda que "em 90% das vezes em que o helicóptero
era usado para atividade profissional". Segundo Kakay, "não há
irregularidade" no uso da verba indenizatória para a compra de combustível
para a aeronave. Segundo o deputado, a última vez que a verba foi usada foi em
1º de outubro.
Gustavo Perrella foi intimado pela Polícia Federal para
prestar esclarecimentos sobre o uso do helicóptero pelo piloto Rogério Almeida
Antunes, que trabalhava para o deputado e foi ainda nomeado por ele para cargo
na Assembleia Legislativa, recebendo por mês R$ 1.700.
O piloto, que está preso na PF do Espírito Santo, foi demitido do
Legislativo, mas ninguém ainda explicou o que ele fazia lá e nem se ele se
apresentava regularmente para o trabalho. A Assembleia diz que a explicação deve
ser do deputado, que joga a questão para a secretaria da Mesa, que a devolve
para o gabinete de Perrella.
Segundo o delegado da PF Leonardo Damasceno, até agora não há
prova de envolvimento da família Perrella ou da empresa dele com o tráfico de
cocaína. Kakay disse que seu cliente autorizou que o piloto fizesse frete
particular para ajudar nas despesas da aeronave, o que seria uma coisa comum,
mas nunca soube que seria usado para tráfico.
O piloto também nega que soubesse que transportaria cocaína. Ele
atribuiu a responsabilidade da carga ao copiloto. Além do deputado, de uma irmã
e do primo dele, todos sócios na Agropecuária, foram intimados pela PF a
prestar esclarecimentos. Kakay não disse quando isso vai ocorrer.
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