terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Colégio Saldanha Marinho

Colégio Saldanha Marinho
Muitas pessoas que diariamente passam pela avenida Celso Garcia, na zona leste de São Paulo, não tem a menor ideia de como a via, que hoje é tão mal cuidada, foi no passado. Mas conversando com pessoas mais antigas, ou lendo livros como “Belenzinho 1910”, de Jacob Penteado, é possível imaginar o quão elegante esta avenida já foi.
Pode-se dizer que até meados da década de 30 a Celso Garcia era uma pequena avenida Paulista, repleta de casarões, mansões e palacetes. Estas, por sua vez, ficavam misturadas as diversas fábricas que tornavam a região do Belenzinho, um bairro de patrões e operários. Mistura essa muitas vezes explosiva, especialmente pelo grande números de sindicatos e anarquistas que andavam pela região.
E se o anarquismo por um lado trazia confusão, por outro também trouxe o conhecimento. Foi das mãos de um pedagogo, anarquista convicto, chamado João Penteado que surgiria uma das primeiras escolas da região e que duraria cerca de 90 anos: O Colégio Saldanha Marinho.
O ENSINO NO BELENZINHO:
Escolas na região do Belenzinho surgiram, de forma não oficial, a partir de 1898. A primeira que se tem notícia era uma pequena escola de propriedade do italiano Godofredo Tosini, na própria Celso Garcia. Alguns anos depois um português, conhecido como Ciro, também montou uma pequena escola de alfabetização na sobreloja da Padaria Francesa, também na mesma avenida. Escola oficial só surgiria em 1909, com o Grupo Escola Amadeu Amaral, que existe até hoje, na época chamado Grupo Escolar do Belenzinho.
A ESCOLA MODERNA Nº1
É em 1912 que João Penteado inaugura uma pequena instituição de ensino no Belenzinho chamada Escola Moderna nº1. A foto abaixo, de 1913, mostra o próprio João Penteado e uma professora com um grupo de alunos diante desta escola, que na época ficava à rua Saldanha Marinho.
João Penteado e seus alunos em 1913 (ele é o homem à esquerda).
As escolas modernas, um projeto de pedagogia libertária, e que era popular na Europa logo se popularizaria por aqui também, com seu ensino progressista e de forte influência anarquista. Entre 1912 e o final desta mesma década, além da Escola nº1, outras surgiram seguindo o mesmo perfil. Elas teriam se popularizado ainda mais não fosse um trágico ocorrido da madrugada de 19 para 20 de outubro de 1919.
Uma bomba que estava sendo produzida por anarquistas em uma casa da região, para alguma ação de terrorismo, explodiu durante a manufatura, levando o imóvel pelos ares e deixando a população paulistana muito assustada. Entre os quatro mortos do trágico acontecimento, estava o anarquista João Alves, diretor na Escola Moderna nº2. A descoberta da presença de Alves pela polícia fez com que o governo decidisse pelo fechamento imediato das Escolas Modernas.
João Penteado acatou a exigência do governo e encerrou as atividades da Escola Moderna nº1, a qual era diretor. Ela foi reformulada e reaberta no início do ano letivo seguinte, em 1920, com o nome de Academia de Comércio Saldanha Marinho.
Era o início de um futuro duradouro de uma das mais notáveis instituições de ensino da capital paulista. A escola permaneceu no mesmo endereço da Escola Moderna nº1 até o encerramento do ano letivo de 1929, quando mudou-se para poucos metros dali, no imponente casarão da avenida Celso Garcia, conhecido como Vila Elza.

Fachada da escola na década de 30.
O fantástico casarão ilustra bem como era bela e rica a avenida Celso Garcia e como a escola, outrora modesta, havia crescido. A Academia de Comércio Saldanha Marinho não era apenas mais uma escola do bairro, mas a única dedicada ao ensino de práticas comerciais. Ali, aprendia-se os tão importantes “ofícios” que seriam de grande valia para o cotidiano profissional dos jovens.
Um dos cursos mais disputados da escola era o de datilografia. Os alunos que mais se destacavam tinham seu trabalho publicado no jornal da instituição, chamado “O Início” e eram potenciais candidatos a vagas de trabalho nos escritórios paulistanos. Conta-se que muitas empresas levavam novos modelos de máquinas de escrever para os alunos da escola conhecerem antes de lançarem no mercado. A máquina de escrever Mercedes foi apresentada ao público paulistano primeiramente no Saldanha Marinho.
A formatura dos alunos era sempre divulgada nos jornais paulistanos e, por muitos anos, foi realizado no então tradicional Salão Londres, um elegante salão de festas e bailes localizado quase em frente à escola.

O célebre João Penteado, fundador da instituição, permaneceu como diretor da escola até falecer em 1966, aos 89 anos de idade. Autor de livros e figura marcante no ensino, Penteado ainda seria homenageado com ruas recebendo seu nome na capital e em Ribeirão Preto.
Com o tempo, adequando-se aos novos tempos, a Academia de Comércio Saldanha Marinho mudou seu nome para Colégio Saldanha Marinho, permanecendo com esta nomenclatura até encerrar suas atividades no final de 2003. Entre 1912 com o início da Escola Moderna e 2003 com o fim do Colégio Saldanha Marinho, foram 91 anos dedicados ao ensino de paulistanos.

O casarão que por muitos anos abrigou o Saldanha Marinho, conhecido como Vila Elza, era um dos mais belos imóveis da avenida Celso Garcia. Dotado de um arquitetura magnífica, não ficava atrás dos palacetes que haviam na região de Campos Elíseos e avenida Paulista.
O imóvel com o tempo ficou pequeno para as atividades da escola, mas no final da década de 50 a casa ainda resistia. Minha mãe estudou no Saldanha Marinho neste período e confirma que na época ainda era o elegante casarão. Aparentemente a reforma foi feita em meados da década de 60, quando o casarão deu lugar a um prédio escolar comum. Era localizado no número 1600 da Celso Garcia.
Com o fim da escola em 2003 o prédio permaneceu abandonado até 2010, quando o imóvel foi vendido para seu vizinho o STILACAFE (um sindicato). Com o tempo o velho imóvel do Saldanha Marinho foi totalmente reformado e incorporado ao imóvel vizinho e deixou de existir. Hoje quem passa por lá sequer imagina que ali tivemos uma escola tão importante.
Para encerrar, a foto abaixo, extraída do Google Street View, mostra como estava a escola antes der demolida. Note que os portões, um de cada lado, ainda eram os mesmos da época do casarão.

Estudou no Saldanha Marinho?  Trabalhou lá? Conheçe alguém que em algum momento fez parte desta importante instituição? Deixe um comentário e ajude a construir a história de São Paulo ainda melhor.
Raio-X da Instituição:
Colégio Saldanha Marinho (Academia de Comércio Saldanha Marinho)
Fundador: João Penteado
Fundação: 1912 (com o nome de Escola Moderna)
Endereço 1 (até 1929): rua Saldanha Marinho, 8
Endereço 2 (de 1929 a 2003): avenida Celso Garcia, 1600

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