sexta-feira, 25 de março de 2022

 ANO C – 03 DE ABRIL DE 2022
5º DOMINGO DA QUARESMA
Tema do 5º Domingo da Quaresma

A liturgia de hoje fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à ressurreição.

A primeira leitura apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse “caminho” é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova.

A segunda leitura é um desafio a libertar-nos do “lixo” que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição.

O Evangelho diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram ativamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica – a lógica de Deus – que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.

LEITURA I – Is 43,16-21
Leitura do livro de Isaías

O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas.

Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga.

Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas.

Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?

Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida.

Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».

AMBIENTE

O Deutero-Isaías (autor deste texto) é um profeta anónimo, da escola de Isaías, que cumpriu a sua missão profética entre os exilados. Estamos no séc. VI a.C., na Babilónia. Os judeus exilados estão frustrados e desorientados, pois a libertação tarda e Deus parece ter-Se esquecido do seu Povo. Sonham com um novo êxodo, no qual Jahwéh Se manifeste, outra vez, como o Deus libertador.

Na primeira parte do “livro da consolação” (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilónia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura de hoje.

LEITURA II – Filip 3,8-14
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor.

Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo,

a justiça que vem de Deus e se funda na fé.

Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos.

Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição.

Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus.

Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido.

Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.

AMBIENTE

A Carta aos Filipenses é uma carta “afetuosa e terna” que Paulo escreve da prisão aos seus amigos de Filipos. Os cristãos desta cidade, preocupados com a situação de Paulo, enviaram-lhe dinheiro e um membro da comunidade (Epafrodito), que cuidou de Paulo e o acompanhou na solidão do cárcere. Com o coração cheio de afeto, Paulo agradece aos seus queridos filhos de Filipos; e, por outro lado, avisa-os para que não se deixem levar pelos “cães”, pelos “maus obreiros” (Flp 3,2) que, em Filipos como em todo o lado, semeiam a dúvida e a confusão. Quem são estes? São ainda esses “judaizantes”, “os da mutilação” (Flp 3,2), que proclamavam a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à Lei de Moisés.

O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polémica contra os adversários “judaizantes” (cf. Flp 3). Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, super entusiastas, que se apresentam com títulos de glória e que parecem esquecer que só Cristo é importante.

EVANGELHO – Jo 8,1-11
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, Jesus foi para o Monte das Oliveiras.

Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo, e todo o povo se aproximou d’Ele.

Então sentou-Se e começou a ensinar.

Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.

Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?».

Falavam assim para lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar.

Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão.

Como persistiam em interrogá-lo, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra».

Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.

Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.

Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu:

«Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno.

Vai e não tornes a pecar».

AMBIENTE

Esta pequena unidade literária não pertencia, inicialmente, ao Evangelho de João: ela rompe o contexto de Jo 7-8, não possui as características do estilo joãnico e o seu conteúdo não se encaixa neste Evangelho (que não se interessa por problemas deste género). Além disso, é omitida pela maior parte dos manuscritos antigos; e as referências dos Padres da Igreja a este episódio são muito escassas. Outros manuscritos colocam-no dentro do Evangelho, mas em sítios diversos, por exemplo, no final do mesmo – como fazem algumas versões modernas da Bíblia. Numa série de manuscritos, encontrámo-la no Evangelho de Lucas (após Lc 21,38), que seria um dos lugares mais adequados, dado o interesse de Lucas em destacar a misericórdia de Jesus. Trata-se de uma tradição independente que, no entanto, foi considerada pela Igreja como inspirada por Deus: não há dúvida que deve ser vista como “Palavra de Deus”.

Seja como for, o cenário de fundo coloca-nos frente a uma mulher apanhada a cometer adultério. De acordo com Lc 20,10 e Dt 22,22-24, a mulher devia ser morta. A Lei deve ser aplicada? É este problema que é apresentado a Jesus.

PALAVRAS DO SANTO PADRE

Permaneceram ali só a mulher e Jesus: a miséria e a misericórdia, uma diante da outra. E quantas vezes isto acontece a nós quando nos ajoelhamos no confessionário, com vergonha, para mostrar a nossa miséria e pedir perdão! “Mulher, onde estão” (v. 10), diz-lhe Jesus. E é suficiente esta constatação, e o seu olhar cheio de misericórdia, cheio de amor, para fazer sentir àquela pessoa — talvez pela primeira vez — que tem uma dignidade, que ela não é o seu pecado, ela tem uma dignidade de pessoa; que pode mudar de vida, pode sair das suas escravidões e caminhar por uma via nova.

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