domingo, 23 de dezembro de 2018

Tradição das quitandas mineiras é preservada em Congonhas

Imagem relacionadaNa histórica cidade na região central de Minas Gerais, livro e festival mantêm vivas as receitas de comidas com sabor de infância e cheiro de casa de vó.
Comida com sabor de infância, com cheiro de casa de vó. As quitandas mineiras são receitas que atravessaram séculos. Na histórica Congonhas, na região central de Minas Gerais, elas continuam vivas e viraram concurso e até livro.
Em Minas, é ao redor da mesa que a vida acontece. Ou acontecia - a urbanização, a industrialização e o fim dos quintais deixaram muita gente na saudade. Mas em Congonhas, o valor das quitandas permanece.
A palavra quitanda vem do dialeto africano quimbundo. Primeiro eram os tabuleiros que levavam coisas que comer, que as negras africanas levavam para vender na cidade. "Esses tabuleiros, ajuntados num certo lugar, de repente vira a quitanda, a lojinha que vai vender aquilo tudo depois", define a jornalista e escritora Rosaly Senra. Já a quitanda mineira é "tudo que a gente come com café", explica. Broas, biscoitos, bolos, pães, doces de todo tipo se encaixam na terminologia.
Rosaly é uma das responsáveis por ajudar a manter a tradição das quitandas em Congonhas. A cidade histórica é patrimônio da humanidade por abrigar o maior conjunto barroco esculpido por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho: os 12 profetas entalhados em pedra sabão, na basílica de Bom Jesus de Matosinhos.
Ela é autora de um livro que reúne quase 400 receitas, que aprendeu com a mãe, Maria Zélia, a tia Imene, a avó e as tias-avós, que sabiam o valor de uma boa quitanda. "O livro vem para resgatar a tradição da família e da região, das cidades coloniais", diz.
Receitas retiradas de caderninhos escritos à mão, passados de geração em geração.
Eu gostei demais de colecionar, de agrupar essas receitas, quanta memória teve nesse trabalho! A gente tem no nariz aquele cheirinho das quitandas da vovó. Tinha um certo biscoito que ela guardava no guarda-roupa, na lata. Então a gente abre aquele guarda-roupa, e que delícia é aquele cheirinho! Aquilo eu tenho no nariz
Os biscoitos da vovó, a bala delícia da Imene, o pé de moleque, o doce de figo, a famosa canjica da Maria Zélia… tudo foi documentado.
Além do livro, outra iniciativa do município tem ajudado a resgatar as receitas antigas e seu valor. No centro cultural, espaço que no passado servia de pouso para romeiros, é realizado todos os anos o Festival da Quitanda de Congonhas.
Resultado de imagem para quitandas de congonhas mg
O evento há 18 anos reúne quitandeiros e quitandeiras da região, premiando as melhores receitas. Neste ano, atraiu um público de quase 20 mil pessoas.
A Secretaria Municipal de Cultura também entrou com um pedido junto ao Ministério da Cultura para que o ofício das quitandeiras seja reconhecido como patrimônio imaterial: uma forma de conservar oficialmente esse saber tradicional para as gerações futuras. E, por que não, garantir um dinheirinho a mais.
Ingredientes da casa
Com o possível reconhecimento e a fama adquirida no festival, vários quitandeiros e quitandeiras de Congonhas, que antes só cozinhavam para a família, passaram a vender seus quitutes. O movimento ajudou também a alavancar as vendas dos agricultores.
Toda noite de sexta e sábado de manhã ocorre na cidade a feira do produtor, que é praticamente um encontro de quitandeiras. Tem quem vá para vender e quitanda e quem vá para comprar ingrediente para fazer a quitanda. E mineiro é exigente com ingrediente: para ele, matéria-prima que vem de fora e ninguém sabe quem fez, não presta para fazer quitanda boa.
"Aqui na feira a gente encontra de tudo e tudo natural. Para deixar o produto mais gostoso", diz o quitandeiro Ridel Martins.
Ridel vende suas quitandas na feira. Alice Bernini e seu marido, os biscoitos. Na barraca da Dona Terezinha de Souza, tem fila para comprar o café moído na hora. Dona Juraci de Barros vai até lá buscar milho verde e o ovo caipira do sítio do José Junqueira, o Zezeca, que junto com seu irmão produz também um fubá de moinho d’água que é sucesso entre as quitandeiras.
"Meu carro-chefe é o fubá. E eu como tenho cabras, trago um queijinho de cabra, trago leite, ovos. E faço alguns produtos, como o sebo de carneiro, o extrato de sucupira, a geleia de jabuticaba, as coisas que tenho em casa", conta Zezeca.
Entre os produtos que ele vende, tem também a erva congonha, árvore que deu nome ao município. Tomar o chá de suas folhas também é tradição antiga. Confira aqui o passo a passo para preparar esse chá e as receitas de outras quitandas deliciosas.
Em Congonhas, ninguém se cansa de fazer e nem de comer quitanda. "Igual o meu marido, que tem até o apelido de Biscoito. Faz 40 anos que a gente mexe com isso", conta Alice Bernini. "Todo mundo acha engraçado e pergunta: mas você ainda come biscoito? Como e gosto", emenda.
"Aqueles que vêm para cá se emocionam porque começam a lembrar do tempo de quando eram crianças, é aquele resgate da tradição que a vovó fazia", diz a quitandeira Rosângela de Freitas.
É o resgate e a tradição das receitas das quitandas, que não podem morrer jamais

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 HOMÍLIA DOMINICAL  24 DE DEZEMBRO DE 2023. 4º DOMINGO DO ADVENTO LEITURA DO DIA Primeira leitura -  Leitura do Segundo Livro de Samuel 7,1-...