A cada 3 minutos, mais de 2
brasileiros morrem por falhas médicas evitáveis
Maria Júlia Marques - Do UOL, em
São Paulo
26/10/201606h00
A cada três minutos mais de dois
brasileiros (2,47 exatamente) morrem em um hospital por consequência de um erro
que poderia ser evitado. Essas falhas são chamadas de "eventos
adversos", que representam erros como a má dosagem de medicamentos ou uso
incorreto de equipamentos.
Um estudo feito
pela Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e
pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), divulgado nesta
quarta-feira (26), mostra que os erros podem ser uma das
principais causas de morte do país.
Analisando artigos já publicados, os
pesquisadores estimam que só no ano passado 434,11 mil óbitos foram provocados
por falhas no sistema de saúde nacional (tanto público quanto privado). O
número representa 1,19 mil pessoas morrendo por dia devido a erros
evitáveis. Para efeito de comparação, em 2013 o Ministério da Saúde informou
que as doenças cérebro vasculares foram as que mais mataram os brasileiros,
registrando 100 mil óbitos.
Além das vidas
perdidas, o estudo projeta que, em 2015, os eventos adversos consumiram de
R$ 5,19 bilhões a R$ 15,57 bilhões de recursos da saúdeprivada
brasileira. Não há valores de perdas para o SUS.
Os eventos adversos causam mortes e
desperdícios de verbas de um sistema de saúde que sofre com a falta de
recursos. A transparência na divulgação dos dados e evitar as falhas ajudam os
pacientes e cortam desperdícios"médico que participou do estudo Renato
Couto, da UFMG
O erro é do médico?
iStock
Quando falamos
"falhas médicas" buscamos um culpado e podemos imaginar que o erro
tenha sido de um médico ou enfermeiro. Porém, Luiz Augusto Carneiro,
superintendente executivo do IESS, afirma que existe uma política de não culpar
o profissional de saúde.
"Errar é humano, não queremos
culpar um médico e sim mostrar como o processo de segurança na saúde precisa
ser melhorado para evitar mortes", afirma.
O superintendente explica que nos
Estados Unidos, por exemplo, notaram que os eventos adversos mais prevalentes
eram com medicamentos. Para diminuir as falhas, hospitais adotaram medidas
preventivas como fazer com que o funcionário que distribui os medicamentos use
uma camisa com os dizeres: "Não fale comigo" e ainda usa fone de
ouvido para não distrair. Também colocam gavetas nos carrinhos de remédios
que só abrem se o funcionário passar o código da pulseira do paciente.
Como diminuir as falhas?
Atualmente, os hospitais não informam
quantas mortes ou complicações acontecem por eventos adversos, e os pacientes
podem nem saber que esse tipo de falha ocorre.
"A escolha de um hospital se
baseia na qualidade, na recomendação de um médico...Mas ninguém tem condições
de garantir que tal prestador é qualificado, simplesmente porque desconhecemos
seus indicadores de qualidade"afirma Luiz Augusto Carneiro do IESS.
Uma das propostas de solução do
estudo é que os hospitais comecem a divulgar quais são as consequências dessas
falhas para o paciente. Uma vez que a população tenha acesso à informação a
cobrança por melhorias aumenta, e os hospitais serão pressionados a melhorar
seus sistemas de trabalho para resolver as questões.
E essa iniciativa não precisa partir
do Ministério da Saúde exatamente. Nos Estados Unidos, empresas que contratam
planos de saúde fizeram um site com um enorme banco de dados avaliando
condições de hospitais. O sucesso foi tamanho que hoje em dia 48%
dos americanos escolhe seu hospital de acordo com os dados do site.
"Depois da divulgação, os
hospitais precisam atuar em três frentes: nas estruturas das instalações, com
bons equipamentos e boa equipe, no funcionamento integrado dos recursos, não
adianta a melhor máquina se não tiver funcionários que operem bem, e por último
mensurar resultados, para calcular metas e acompanhar sua evolução", explica
Couto.
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