Pacientes graves rejeitam 'pílula do câncer'
3/4/2016 às 10h53 (Atualizado em 3/4/2016 às 11h59) – R7
Pacientes graves rejeitam 'pílula do câncer'
Sucesso da
fosfoetanolamina no tratamento da doença tem sido contradito por especialistas
A fosfoetanolamina
sintética, mais conhecida como "pílula do câncer", causou uma
mobilização nacional após a corrida de pacientes para ter acesso à substância,
que se apresenta como eficaz contra a doença, mas nunca foi testada em humanos
e não tem autorização para ser usada como medicamento.
Apesar dos supostos
relatos de cura, há pessoas que, mesmo com câncer em estágio avançado, são
contrárias ao uso da fórmula antes da comprovação de eficácia e preferem não
experimentá-la.
Desde 2007, a
"youtuber" Jussara Del Moral, de 51 anos, luta contra a doença que
apareceu pela primeira vez na mama. Após ter feito cirurgia, quimioterapia e
radioterapia, ela ficou bem por um tempo, mas o câncer começou a se espalhar.
Em 2009, apareceu nos pulmões. Em 2013, na calota craniana.
— Fiz cirurgia da
calota, 20 sessões de radioterapia e fiquei um ano bem, mas as metástases
ósseas se alastraram, tenho vários pontos no crânio. Tenho uma doença crônica,
que não tem cura, mas não vou tomar um remédio que não foi pesquisado. A gente
não mexe em um time que está ganhando.
Jussara diz que não
acredita na possibilidade de a substância ser capaz de curar todos os tipos de
câncer e destaca a importância da realização de testes antes do uso.
— Para um paciente
metastático, o que a gente sonha todo dia é que tenha alguém estudando, porque
a gente quer tempo e qualidade de vida. Quero que essa substância seja estudada
e seja boa para algum tipo de câncer ou para dor, mas, no momento, ninguém sabe
o que é.
A médica Verônica
Hughes, de 56 anos, foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2004 e está no
estágio 4 da doença, considerado o mais avançado, há cinco anos e meio.
— O paciente com
câncer terminal, como eu, é uma presa fácil. Somos extremamente vulneráveis,
caímos nas mãos de curandeiros e charlatões. Já me operei duas vezes porque
tive metástase na cabeça. Eu não fiz nenhum tratamento alternativo, mas sei o
desespero de não ter o que fazer.
Foco
O tratamento não tem
sido fácil para o empresário Douglas Gallo, de 34 anos, que descobriu um câncer
de intestino em outubro de 2012 e teve metástase pulmonar. Ele está no sétimo
esquema de quimioterapia e teve de superar dificuldades em todos eles.
— Cada tipo me trouxe
um desconforto. Perdi sensibilidade, caiu meu cabelo, tive espinhas. Passei por
vários sintomas diferentes. A adaptação é muito difícil, porque a gente não
sabe como vai se comportar com cada remédio.
Gallo diz que várias
opções de tratamentos alternativos lhe foram ofertadas desde o diagnóstico.
— Tive várias
oportunidades de tomar remédios fora do que os médicos trazem, mas acho que
qualquer droga que quer ser regularizada tem de passar por aprovação.
O empresário chegou a
fazer uma cirurgia espiritual, procedimento sem cortes.
— São alternativas
para você lidar com o tratamento. Tem gente que parte para uma vida sem
estresse, outras vão para a igreja.
Cuidados
Luciana Holtz,
psicóloga e presidente do Instituto Oncoguia, organização não governamental que
oferece apoio e orientação para pacientes com câncer, diz que buscar apoio do
médico que faz o tratamento é fundamental para enfrentar a doença sem se
desesperar.
— Ainda existe uma
associação que câncer significa a morte. É muito desespero misturado com
vontade de acabar com o sofrimento, mas as pessoas precisam se acalmar. O câncer
é complexo e a decisão tem de ser responsável.
Oncologista clínico
do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor da Clinonco (Clínica de
Oncologia Médica), Artur Malzyner, diz que a pílula deve ser evitada.
— Substâncias
aparentemente inofensivas podem interferir na absorção de um tratamento. A
automedicação é algo que pode ser prejudicial para a saúde do paciente. Além
disso, existe um padrão mínimo de pesquisa para que o paciente receba um
tratamento eficiente.
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